Erich Decat e Verônica da Silva
Da Agência Brasil /Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - OMinistério Público Federal de Mato Grosso (MPF/MT) encaminhará esta semana à Policia Federal pedido de investigaçãosobre episódio envolvendo ameaças e a suposta expulsão sofridas por representantesde duas organizações não-governamentais (ONGs) ede dois jornalistas estrangeiros na cidade de Juína (MT). Segundo aassessoria do MPF/MT, o pedido de investigação jáfoi assinado pelo procurador responsável pelo caso, MárioLúcio Avelar, e deve ser encaminhado à PF até apróxima sexta-feira (7).
Oincidente em Juína teria sido articulado por um grupo de fazendeiros locais, contando com a participaçãode autoridades locais contrárias à ampliaçãoda terra indígena dos Enawene-Nawe. O episódio gerou um vídeo, postado na semana passada na internet, "Amazônia, Uma Região de Poucos", ou, na versão em inglês, "Amazon: In The Hands of a Few". O título ironiza o atual slogan do governo federal, "Brasil, Um País de Todos".
De acordocom o coordenador do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adário,que fazia parte do grupo que foi alvo das agressões registradas no vídeo, a equipe teria sido confundida com técnicos da FundaçãoNacional do Índio (Funai) responsáveis pelos estudos sobre a demarcação da área em disputa.
“Nosconfundiram com um grupo de antropólogos que iriam demarcaruma área lá de Juína, que está sendo disputada entre osfazendeiros e os Enawene-Nawe”, relata ele. Após passar anoite (19) em um hotel da cidade, vigiado pelos fazendeiros, o grupofoi encaminhado, no dia seguinte (20), à CâmaraMunicipal, onde permaneceram por seis horas sob interrogatório, conforme a descrição feita no vídeo.
O prefeito da cidade, Hilton Campos, confirma que o episódio capitaneado pelos fazendeiros foi motivado pela disputa da área. “Para queeles vão filmar, se já existem imagens via satélitede todas as áreas?”, questiona Campos. Indagado sobre sua motivação pessoal para ter participado do episódio, o prefeito confirma que defendia a causa dos fazendeiros. “Nãoé porque sou contra o índio, mas já são63% de reserva indígena no município”. No vídeo, durante a sessão improvisada na Câmara, o prefeito afirma que a equipe não entraria na área indígena "de jeito nenhum". Em dado momento, no saguão do hotel, quando a equipe está pegando seus pertences para ir embora da cidade, um dos fazendeiros afirma: "Tem que arrastar um cara desses com a caminhonete aqui até...". Os agressores também afirmam, em outro momento que vão "guardar uma foto ou duas" dos ativistas para "lembrar deles", caso voltem à cidade.No diaseguinte ao interrogatório mostrado no vídeo, os ativistas ejornalistas estrangeiros foram escoltados pela Polícia Militar e por uma carreata de produtores ruraisaté o aeroporto da cidade. Segundo o chefe da Funai em Juína,no mesmo dia, um grupo de fazendeiros invadiu o escritório da fundação na cidade,ameaçando-o. “Eles deixaram a mensagem de que, se a terraindígena for demarcada, nós [os servidores e osindígenas] teríamos problemas”, relata Antônio Ferreira de Aquino.
A áreaem disputa tem aproximadamente 200 mil hectares e fica na regiãonoroeste de MT, conhecida como Gleba do Rio Preto. Para osindígenas, a região está ligada a suas tradições, como os rituais comunitários de pesca yankwã. Atualmente a área é utilizada para a criaçãode gado.