Erich Decat
Da Agência Brasil
Brasília - O climade tensão instaurado na cidade de Juína (MT) em razãodo processo de reavaliação das terras dos índios enawenê nawê é “bastante preocupante”. A constataçãoé do chefe da Fundação Nacional do Índio(Funai), na cidade, Antônio Ferreira de Aquino.Aquino conta que a sede da fundação no município foi invadida por fazendeiros contrários à ampliação das terrasindígenas um dia depois (21) de um grupo de ativistas e jornalistas estrangeiros terem sido forçados a deixar a cidade, sob escoltapolicial.Na ocasião, Aquino, que estava em reunião como engenheiro florestal Fabrício Estephanio, diz que foiameaçado. “Eles [os fazendeiros] deixaram a mensagem de que,se a terra indígena for demarcada, nós [os servidores eos indígenas] teremos problemas”, relata.Estephanio,que trabalha desde 1998 com os Enawenê Nawê, é um dospostulantes a uma vaga no grupo que fará o estudoantropológico e ambiental na área em disputa, que temaproximadamente 200 mil hectares e fica na região noroeste doEstado, sendo conhecida como Gleba do Rio Preto.Após as ameaças,o engenheiro se diz temeroso caso venha a ser chamado para preparar olaudo: “Acho interessante que fosse alguém de fora. Moronuma cidade ao lado de Juína e realmente se corre esse riscode retaliações no decorrer do processo ou mesmo após”.Apesar do receio, Estephanio diz que vai aguardar a resposta final daFunai quanto à formação do grupo para tomaralguma decisão.O temorde algum incidente é compartilhado com Aquino, que sugere queos integrantes do futuro grupo de estudo realizem a análiseacompanhados da polícia: “Sugiro que os técnicos queirão fazer a revisão de área dos índiosem Juína venham escoltados. Não recomendo que venhasó”.Segundo ofuncionário da Funai, também há grandepreocupação com a generalização daviolência contra os indígenas: “Muitos fazendeiros nãodistinguem uma etnia da outra, por isso pode ocorrer problemas comos outros índios”.Ospossíveis problemas relatados por Aquino foram vivenciadosontem (3) pelo presidente do Conselho de Saúde Indígenade Juína, Jaime Zehmay, da etnia Rikbatsa. “Recebi uma ligaçãodizendo que era para eu tomar cuidado com a minha mão e com aminha língua”, relata. “Por estar à frente da saúdeindígena na região, os fazendeiros acham que sou eu queestou fazendo os documentos e divulgando-os.”O prefeito de Juína, Hilton Campos,nega que exista um "ambiente de tensão" na cidade. “A cidade de Juínanão é terra sem lei, nunca existiu esse clima e nem vaiexistir” afirma. “Ninguém vai mexer com ninguém”,acrescenta. Indagado sobre a possibilidade de o grupo de técnicosda Funai ser proibido de ter acesso à área emdisputa, como aconteceu com a equipe de jornalistas e ativistas, ele respondeu: “Primeiramente é preciso queseja feita uma audiência pública para debater oassunto”.Segundo a assessoria do Greenpeace, outros ativistas e lideranças indígenas também estão sofrendo ameaças de morte, por isso a entidade tomou a iniciativa de pedir apoio do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, para tentar solucionar os conflitos.