Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As obras da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, um empreendimento de US$ 4,05 bilhões, terão início sem a participação da Venezuela – uma vez que o acordo de acionistas com a estatal Petroleo de Venezuela S.A. (PDVSA) não foi concluído.Na manha de hoje, em solenidade que contará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a estatal dá início aos trabalhos de terraplanagem da nova refinaria, que deverá gerar cerca de 20 mil empregos diretos por um período de seis meses durante a fase do pico da obra.Prevista para entrar em operacão no segundo semestre de 2010, a nova unidade, o primeiro grande projeto da área de refino em décadas, atenderá basicamente as regiões Norte e Nordeste do país. Com foco na produção de óleo diesel, principalmente para atender o crescimento da demanda de derivados no Nordeste, hoje deficitário em combustíveis, a nova unidade será a primeira a processar 100% de petróleo pesado. Além disso, a Refinaria Abreu e Lima terá capacidade para produzir derivados com baixo teor de enxofre, podendo atender até aos padrões europeus, que especificam um limite máximo de 10 ppm (partículas por milhão) de enxofre.A nova unidade utilizará petróleo pesado do Brasil e da Venezuela, países com grandes reservas desse tipo de óleo. Com capacidade para processar 200 mil barris de petróleo por dia, a refinaria deverá produzir, anualmente, cerca de 814 mil metros cúbicos de nafta de petroquímica, 322 mil toneladas de GLP (gás de cozinha), 8,8 milhões de toneladas de diesel e 1,4 milhão de toneladas de coque de petróleo. A princípio a refinaria deverá ser construída em parceria com a PDVSA. Para isto, no entanto, será necessário que as duas estatais cheguem a um intrincado acordo de acionista que prevê a participação da Petrobras como sócia de parte do petróleo extraído na faixa do Rio Orinoco, em solo venezuelano.Em entrevista na semana passada, no Rio de Janeiro, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, garantiu que o projeto seria tocado com ou sem o acordo com a Venezuela, uma vez que dinheiro não era problema para a estatal brasileira levar adiante o projeto. Gabrielli esclareceu que o fechamento da parceria com a PDVSA dependerá essencialmente do acordo em relação àparticipação da estatal no campo petrolífero de Carabobo, localizado exatamente na região do Rio Orinoco: “Fizemos um acordo que envolve uma relação simétrica entre as condições de exploração no campo de Carabobo, com as condições da refinaria no Brasil – se nós vamos ter 40% de Carabobo, eles terão 40% aqui na refinaria; se teremos poder de gestão lá, eles também terão percentual de gestão igual aqui. São contratos simétricos que estão em negociação no momento”. Ele disse também que a estatal considera importante a associacão com a PDVSA para a construcão da refinaria, mas admitiu que, se necessário, a Petrobras estaria disposta a fazer a refinaria sozinha. "Nós achamos a unidade importante para o mercado nordestino brasileiro, achamos que a expansão desempenha um papel estratégico importante e estamos dispostos a fazer com eles, mas isso só tem sentido com a contrapartida do óleo venezuelano. Nós não precisamos do dinheiro, nós queremos é ter acesso ao óleo venezuelano”. Depois de lembrar que a Petrobras continua tocando sozinha o cronograma de implantação da unidade, Gabrielli destacou que a refinaria em Pernambuco não depende da Venezuela: "O projeto está feito, vamos iniciar a terraplenagem, constituir a empresa, já estamos discutindo o estatuto e o acordo de acionistas. O nosso objetivo é que o início da operação se dê no final de 2010”.