Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As principais preocupaçõesda sociedade civil organizada sobre a criação do Banco do Sul referem-se ao modelo de desenvolvimento aser implementado e ao tipo de projeto que seráfinanciado pela nova instituição de fomento. "Se vamos criaruma nova instituição financeira na regiãopara financiar os mesmos projetos de sempre, se vamos reproduzir omesmo esquema e os mesmos paradigmas de desenvolvimento, qual éa vantagem? Não a vemos", afirma a representante doJubileu Sul nas Américas, Beverly Keene. Ela diz que a entidade considera importante ter uma instituição voltada ao financiamentodo desenvolvimento dos países sul-americanos. "Mas se essainstituição repetir a mesma lógica de bancosmultilaterais ou que está sendo implementada pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social],efetivamente não vai favorecer em nada as nossas populações. Porque essa lógica leva a um desenvolvimento subordinado a demandas externas, não possibilita a diminuiçãodas desigualdades", avalia Guilherme Carvalho, integrante daFASE-Amazônia e da nova diretoria da Rede Brasil.Na direção opostaestaria, por exemplo, a constituição de um fundo –vinculado ao Banco do Sul - voltado aos países mais pobres, como ocorre na União Européia."Como vamos fazer umaintegração do Brasil, a maior potência econômicada América do Sul, com o Uruguai, com o Paraguai, com aBolívia?", questiona Carvalho. "Muitos empresáriostêm uma visão tacanha a ponto de não entender quese o Paraguai não tiver recursos para combater a febre aftosao rebanho brasileiro sempre vai estar vulnerável". Os movimentos sociais tambémdefendem a igualdade de poderes dentro do Banco. "Vão sereproduzir os mesmos esquemas de desigualdade que se produzem no bancoMundial e no Fundo Monetário Internacional, onde quem põe maisdinheiro tem mais poder e tomas as decisões?", indagaBeverly. "Ou podemos efetivamente ter uma estrutura igualitáriaentre os países da América do Sul, que permitiriaencarar a integração e o desenvolvimento dos povos apartir da ótica da solidariedade, da fraternidade e daigualdade de direitos?". Ela acrescenta que o Banco do Sulpode ser "emblemático" no funcionamento de uma integraçãoque reconheça que a região tem muitas assimetrias. "Nenhum projetode integração pode ser favorável aos povos senão encarar essa realidade e procurar mudá-la". O pesquisador Carlos Tautz, doInstituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas(Ibase), é menos otimista quanto à nova instituição.Na avaliação dele, o banco está vinculadoao projeto do Gasoduto do Sul. "Esse projeto talvez tenha sidoarquivado por causa da disputa geopolítica eliderança e influência econômica na regiãoentre Brasil e Venezuela", afirma. "O grande projeto-âncora,que daria a partida no Banco do Sul, não existe mais". Apesar da descrença no Banco do Sul,Tautz ressalta a necessidade de umainstituição financeira regional. "Énecessária uma nova arquitetura financeira, que torne aAmérica do Sul independente do julgo do dólar e dojulgo do tesouro norte-americano".