Sem apoio, boxeador baiano quebra jejum e dá ouro para o boxe no Pan

28/07/2007 - 14h14

José Carlos Mattedi
Enviado especial
Rio de Janeiro - “Não tenho patrocínio. A única coisa que tive foi um apoiozinho para vir ao Pan”. Assim, com simplicidade, o boxeador Pedro Lima deu uma idéia da situação do boxe amador do país que, apesar de não contar com patrocínios, fez uma campanha digna nos Jogos do Rio de Janeiro, que terminam amanhã (29). Foram oito medalhas (um ouro, uma prata e seis bronzes), numa jornada bem superior a Santo Domingo, em 2003, quando a equipe brasileira ficou com dois bronzes. E o baiano Pedro Lima foi o autor da maior façanha: depois de um jejum de 44 anos, o boxe nacional levou uma medalha de ouro em um Pan-Americano.Ele derrotou na sexta-feira (27) o americano Demetrius Andrade na categoria meio-médio (até 69 kg). Aos 24 anos, Pedro Lima veio ao Rio com a ajuda da prefeitura de Salvador, onde treina, e do São Paulo Futebol Clube. “Esse apoio facilitou meu treinamento”, resume. Apesar das dificuldades, ele conseguiu um feito importante: desde 1963, nos Jogos Pan-Americanos de São Paulo, o boxe do Brasil não tinha um campeão. A medalha de ouro, na ocasião, veio em dose tripla com o peso médio Luiz Cézar, o meio-leve Elecio Neves, e o pena Rosemiro Mateus.O boxe brasileiro disputou o Pan com onze atletas (oito deles ganharam medalhas). A modalidade não tem tido de empresários e de estatais um apoio proporcional ao seu potencial de pódios. Para 2007, o orçamento da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) é de R$ 997 mil, recursos oriundos da Lei Agnelo Piva, que destina 2% das loterias federais aos desportos olímpico e paraolímpico. “O boxe está disputando onze medalhas de ouro com onze atletas. O vôlei só disputa um ouro, com o masculino, e contando titulares e reservas, são doze. É uma coisa difícil de entender”, comenta o presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), Luiz Cláudio Bozelli.Segundo o presidente da CBBoxe, a verba recebida não é suficiente, só dando para manter a equipe olímpica concentrada e a comissão técnica. “Faltam recursos para intercâmbios internacionais, para viagens. Em outubro, por exemplo, temos um campeonato mundial. Seria importante termos uma etapa de preparação na Europa. Mas ficou como um lençol curto, se usarmos a verba da Lei Piva, vai faltar depois.” Para Bozelli, o ideal para suprir as carências do boxe nacional, como a preparação das categorias de base, seriam recursos na ordem de R$ 2 milhões.O medalhista de ouro Pedro Lima acredita que, com a conquista, sua carreira pode avançar, principalmente com a chegada de um patrocinador. “Não quero ficar criando muita expectativa sobre isso. Mas o resultado vai me ajudar a progredir no boxe. Se vier (o patrocínio), espero conseguir um bom resultado na Olimpíada de Pequim-2008. É só ter, agora, a cabeça no lugar e manter a humildade”, afirmou hoje (28), ainda sob o efeito da vitória. “Foi uma emoção grande e uma alegria inexplicável. Foi resultado da união do nosso grupo”.Na sua opinião, o sucesso do boxe nos Jogos do Rio pode levar as pessoas a ver o esporte com o mesmo entusismo que olham para o futebol e o vôlei. “Tivemos um grande resultado aqui. Só falta apoio. Espero que a partir de agora as coisas mudem, e se invista mais na modalidade, principalmente no boxe da Bahia”, frisa. Sobre uma possível profissionalização, após a Olimpíada de Pequim, ele preferiu não comentar, e desconversou: “O Dórea é que decide sobre minha carreira”. Luiz Carlos Dórea, seu treinador, teve como pupilo o ex-campeão mundial Acelino Popó Freitas.De família pobre, Pedro nasceu em Riachão de Jacuípe (BA) e teve que trabalhar ainda criança para ajudar os pais: vendeu picolé, chocolate e salgadinho. Depois foi pedreiro e carregador de móveis em uma loja. Quando vendia balas em Salvador, foi convidado por Dórea para treinar boxe. Tinha 15 anos. No ano passado, ele foi eleito pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) como o melhor atleta do boxe no país.