Movimentos pedem investigação federal do assassinato de líder guarani-kaiowá

13/07/2007 - 16h04

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Umaarticulação de movimentos sociais do Mato Grosso doSul, entre eles o Conselho Indigenista Missionário (Cimi),entregou hoje (13) uma representação ao MinistérioPúblico Federal em Mato Grosso do Sul para que o assassinato dolíder indígena guarani-kaiowá Ortiz Lopes, mortono último domingo, seja investigado pela Polícia Federale não por autoridades locais.

Segundo orepresentante do Cimi, Egon Heck, a representaçãolevada ao MPF é baseada em depoimentos de Marluce Lopes, viúvade Ortiz, e de outros líderes guarani-kaiowá, querelacionam a morte do índio a sua atuação naluta pela terra indígena Kurusu Amba. A áreacorresponde à fazenda Madama, entre os municípios deCoronel Sapucaia e Amambai, na região da fronteira com oParaguai, e é motivo de disputa entre índios efazendeiros.

De acordocom o procurador do MPF em Dourados Charles Pessoa, se a análiseda representação indicar a relação doassassinato de Lopes com a disputa pela terra, a investigaçãopassará para competência federal. "Quando háviolação do direito dos índios sobre as terrasque ocupam, a Constituição Federal édesrespeitada e demanda atuação de autoridadesfederais", explica.

Porenquanto, o caso está sob a responsabilidade da PolíciaCivil do município de Coronel Sapucaia, que abriu inquéritopara investigar o assassinato e começou a ouvir as testemunhasna última quinta-feira.

De acordocom o delegado Claudinei Galinari, a indicação dosmotivos do crime e de possíveis suspeitos só seráfeita após tomada de mais depoimentos e realizaçãode levantamento em cidades onde o líder guarani-kaiowámorou recentemente.

Galinariadiantou que a Polícia Civil pretende trabalhar com diversaslinhas de investigação e não descartará ahipótese de crime cometido a mando de fazendeiros da regiãopela disputa das terras.

Para orepresentante do Cimi, a Polícia Civil não é aautoridade mais indicada para investigar o assassinato de Lopes."Existe um clima antiindígena articulado pelo poderpolítico-econômico da região, e isso podecomprometer a atuação da polícia local. APolícia Federal tem mais isenção, maisobjetividade para apurar o caso, chegar aos responsáveis epunir os culpados", afirma.

Heck temeque o assassinato de mais líder guarani-kaiowá cause oagravamento da violência entre índios e fazendeiros daregião. "A comunidade está fragilizada, o climaestá muito tenso, alguns índios nos disseram que estãodesacreditados da Justiça. Estamos preocupados com o que podeacontecer daqui para a frente."

Emjaneiro, a líder espiritual Zulita Lopes foi morta namesa região durante a ocupação forçada daárea. De acordo com a Polícia Federal de Ponta Porã,responsável pelo caso, até hoje o inquérito nãofoi enviado à Justiça porque a investigaçãoainda está em andamento.Além do Cimi, o pedido de investigação federal é endossado por entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).