Jovens de periferia do Rio vão fazer cobertura crítica do Pan

13/07/2007 - 13h38

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Cinqüenta jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro (RJ) vão acompanhar e relatar os acontecimentos dos jogos Pan-Americanos, não só os esportivos, mas fazendo um contra-ponto com a realidade da cidade. Texto, fotos, áudio e vídeo serão produzidos pelos integrantes do Projeto PapoPan, uma parceria da Revista Viração com o Observatório de Favelas e os ministérios dos Esportes, da Justiça e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Todo o material será veiculado no Blog PapoPan, da Agência Brasil.Do PapoPan participam jovens com idades entre 16 e 22 anos. São moradores de sete comunidades da Cidade de Deus e de outras seis do Complexo da Maré, regiões de favelas. A idéia nasceu a partir de um pedido do Ministério do Desenvolvimento Social à Revista Viração (publicação sem fins lucrativos de circulação nacional, feita por jovens) para que criasse um projeto de cobertura jornalística do Pan com a juventude da periferia. O Ministério da Justiça indicou, então, o Programa Guia Cívico – que coordena através da Secretaria Nacional de Segurança Pública - do qual participam sete mil jovens que recebem formação sobre cidadania.Desse programa vieram os 50 jovens, que na última segunda-feira (9) iniciaram uma oficina com conteúdos sobre cidadania, comunicação e noções básicas de jornalismo, que inclui práticas de texto, entrevista, fotografia, rádio e vídeo web. Além da teoria, eles irão aos centros esportivos e às suas próprias comunidades para fazer um contra-ponto entre a festa do Pan e a realidade do cotidiano carioca. A oficina termina com o fim dos jogos, no dia 29. Cada participante recebe uma bolsa-salário de R$ 175,00 pela cobertura do evento.“Trabalhamos com o princípio da Educomunicação, misturando educação com comunicação. Será uma espécie de cobertura paralela do evento, com os jovens falando dos jogos, mas também sobre questões como desemprego, segurança e direitos básicos da juventude”, explica Paulo Lima, um dos coordenadores do PapoPan e diretor da Revista Viração. Segundo ele, os jornalistas-aprendizes decidiram trabalhar com duas linhas de enfoque: o Pan como um momento de confraternização dos povos das Américas; e o distanciamento das comunidades cariocas desse mega-evento.A produção (textos, fotos, rádio e vídeo) será veiculada também pela Revista Viração, por rádios comunitários do RJ e de outras capitais. Inclusive, a Rádio Saara, que fica numa área do centro da cidade carioca com comércio popular, vai veicular “pílulas” radiofônicas com pequenas entrevistas e enquetes. Também sites ligados à defesa do adolescente e da juventude estarão reproduzindo alguns trabalhos. A Agência Brasil criou um blog específico para divulgar diariamente o material dos jovens. Ao final dos jogos, toda produção vai resultar numa edição especial da Revista Viração.De acordo com Paulo Lima, após se apropriarem dos instrumentos de comunicação, os jovens vão retornar às suas comunidades podendo se envolver em práticas de comunicação comunitária, ou seja, participando de rádios locais, criando jornais murais ou até impressos. Além disso, na hora de buscarem o primeiro emprego, “estarão muito mais articulados na fala”, sabendo se comunicar melhor com o mundo.“Eles estão sendo capacitados a trabalhar com fotografia, vídeo, rádio e texto. Assim, também vão estar melhorando sua auto-estima. Eles estão mudando a própria concepção que tinham de si mesmos, de comunidade de periferia”, pontua.