Europa propõe produzir biocombustível na África junto com o Brasil

03/07/2007 - 0h32

Mylena Fiori
Enviada especial
Lisboa (Portugal) - A Europa pretende cooperar com o Brasil napromoção da produção de biocombustíveis em países africanos. Esta é umadas perspectivas que se abrem com a parceria estratégica entre as duas regiões, na avaliação do embaixador da União Européia noBrasil, João Pacheco. As duas regiões também devem atuar juntas emesferas multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente no que se refere a mudanças climáticas.Nessaentrevista exclusiva à Agência Brasil, ele enumera as áreasprioritárias de cooperação para a União Européia. Define o Brasil como o país mais importante da América Latina e revelaque a parceria estratégica – cuja proposta será formalizada durante aprimeira Cúpula Brasil-UE, amanhã (4), emLisboa - é um desejo antigo dos europeus.Agência Brasil: O Brasil era o único país dos chamados BRICs (mais Rússia, Índia eChina) que não tinha parceria estratégica com a União Européia. Aproposta partiu de Portugal. O que a UE pensa sobre a iniciativa e oque espera dela?João Pacheco: Aproposta, efetivamente, vem da Comissão Européia, como qualquerproposta no âmbito da União Européia. Mas Portugal sinalizou que teriatodo o interesse, durante asua presidência, de formalizar a parceria estratégica com o Brasil. Eudiria que é uma joint-venture entre a UE e a presidência portuguesa.Nós já vínhamos pensando neste assunto há um par de anos, mas agorativemos a oportunidade política para avançar. Era umaanormalidade que dentro dos BRICs, o Brasil fosse o único que não tinhaessa parceria. O Brasil tem hoje um papel no mundo e naregião. Na região, é um fator de estabilidade, umareferência. E no mundo, está tendo papel cada vez maior, portanto nãohavia justificativa para deixar de fora o Brasil. É essa lacuna que vamos preencher agora.ABr: O que os dois lados têm a ganhar?Pacheco: Voudar um exemplo: as mudanças climáticas. É um assunto urgente, deimpacto mundial. Queremos trabalhar com todos e também com o Brasil. Queremosver com o Brasil como podemos ter uma ação em nível mundial que empurreos outros países para a redução da emissão de gases de efeito estufapara resolver, dentro do possível, este grande problema. Outro exemploé uma parceria mais estreita a nível de energias renováveis,biocombustíveis, todas as formas de energia. Hoje, um dos grandesproblemas do mundo é que a energia fóssil não vai durar para sempre etemos que encontrar alternativas – biocombustíveis, hidrogênio, outrasfontes. Podemos trabalhar em conjunto. Outro exemplo: temos todo o interesse em colaborar com o Brasil em assuntos depesquisa e desenvolvimento na área de ciência e tecnologia. Temos umgrande programa na União Européia, com recursos muito significativos,cerca de R$ 140 bilhões, e uma parte destes recursos é para cooperaçãocom outros países. Ora, entre os países de fora do G 8, o Brasil éaquele que mais produz em termos de ciência e tecnologia. Julgo queaqui também há interesse, para nós, de nos associarmos ao Brasil, e háinteresse do Brasil de aproveitar toda a dinâmica, todo o conhecimentona área de ciência e tecnologia da Europa. São parcerias estratégicas.Também podemos discutir questões de regulação, investimentos, questõesligadas aos transportes marítimos e aéreos. Há uma agenda aberta ànossa frente e agora temos que definir em conjunto aquilo que teráinteresse e botar para frente.ABr: Um dos enfoques da parceria estratégica, mencionado na proposta daComissão Européia, é a parceria entre Brasil e UE em terceiros países.Seria algo nos moldes do acordo fechado entre Brasil e EUA paraprodução de biocombustíveis em países da América Central? Existe esseinteresse em relação à África, por exemplo?

Pacheco: Éisso mesmo. É preciso ver como é que nós podemos cooperar sobretudo naÁfrica. Um bom exemplo é a questão da promoção da produção debiocombustíveis nesses países. Pensamos que o protocolo que a UniãoEuropéia está trabalhando com os países africanos de expressãoportuguesa cria um lugar muito bom para termos uma parceria a três como Brasil.ABr: A proposta de parceria também destaca a perspectiva de coordenação deposições nas Nações Unidas. Em quais temas a União Européia consideraimportante tal coordenação com o Brasil?Pacheco: Umassunto, claramente, é a questão das mudanças climáticas. Para nós issotem que ser tratado nas Nações Unidas. Nós e o Brasil, que assinamos oprotocolo de Quioto, temos uma grande preocupação, que é impedir que oaquecimento do planeta se transforme num desastre de proporçõesgigantescas que afeta sobretudo aqueles que têm menos recursos. Outroassunto é trabalhar para a paz. O Brasil já tem uma presença muitoativa no Haiti e queremos  trabalharcom o Brasil para contribuir com a paz no mundo. Outra área decooperação é na Comissão de Direitos Humanos. Nós temos osmesmos objetivos, não há diferença nenhuma entre UE e Brasil. Por que nãocoordenamos melhor nossas posições a nível das Nações Unidas em todasas tomadas de decisão em defesa dos direitos humanos? Portanto,pensamos que há espaço para uma cooperação mais estreita.ABr: Esperava-seque o Brasil fosse convidado a aderir à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na última reunião dogrupo, mas houve apenas uma sondagem. A partir da proposta de parceriaestratégica, o passo seguinte será o convite de adesão?Pacheco: Não é uma conseqüência obrigatória. Aparceria estratégica tem uma dinâmica própria. Agora, a presença doBrasil na OCDE poderá fazer sentido porque o Brasil é um país que jácontribui bastante para a economia mundial, sobretudo na área dascommodities, mas não só. Isso tem mais a ver com a posição do Brasil no mundo do que com a parceria estratégica com a UE porque a OCDE tem todos os países desenvolvidos e o México e a Coréia como membros.Leia também a segunda parte da entrevista. E as outras reportagens da Agência Brasil sobre a Cúpula Brasil-UE.