Especialista diz em CPI da Câmara que solução para setor aéreo não será indolor nem imediata

03/07/2007 - 20h50

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A solução para a crise no setor aéreo não será indolor e vai demorar algum tempo. A opinião é do assessor de Segurança de Vôo e Relações Internacionais do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), comandante Célio Eugênio de Abreu Júnior, para quem os responsáveis precisarão “ter coragem” para reordenar a malha aérea e adaptá-la ao crescimento dos últimos anos.

Segundo o especialista e ex-piloto da Varig, serão necessárias medidas impopulares para suprir a falta de investimentos em infra-estrutura aeroportuária, principalmente no estado de São Paulo, onde "o sistema está próximo do seu esgotamento”. Ele citou a busca de alternativas para os aeroportos de Congonhas e internacional de Guarulhos – o primeiro, explicou, já opera no limite, e a capacidade do segundo se esgotará rapidamente, caso o tráfego continue crescendo no ritmo dos últimos anos.

“Como ficamos muito para trás em termos de [investimentos em] infra-estrutura aeroportuária, teremos de manter o funcionamento e a segurança desses aeroportos e, ao mesmo tempo, transferir alguns vôos para locais que podem não interessar nem aos usuários, nem às companhias”, disse. Recentemente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que estuda remanejar vôos do aeroporto de Guarulhos para o de Viracopos, em Campinas (SP).

Em depoimento hoje (3) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo, na Câmara dos Deputados, o especialista pediu que um organismo internacional independente realize uma auditoria no setor aéreo, a fim de "esclarecer qualquer tipo de dúvida existente entre os gestores do espaço aéreo e os controladores de vôo, já que cada um diz uma coisa”. As autoridades responsáveis, na opinião dele, não prepararam o país para o crescimento do tráfego aéreo: “Se tivéssemos planejado [os investimentos], os problemas hoje seriam menores. Carências como as que estamos vendo [de controladores e de equipamentos] demonstram que faltou planejamento”. Sobre a acusação de que atrasos e cancelamentos de vôos estariam ocorrendo porque as empresas aéreas operam no limite da capacidade, o especialista disse ser “inadequada”. E lembrou que as empresas “são concessionárias de um serviço concedido pelo governo”, com rotas liberadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).Célio Júnior destacou ainda o aumento no nível de estresse entre os tripulantes, já que por conta dos atrasos, as empresas não estariam conseguindo programar o tempo de vôo de forma a não ultrapassar a jornada de trabalho de pilotos e comissárias. Mas ressalvou que há segurança no tráfego aéreo no país:  "Os pilotos são co-responsáveis e mantêm os aviões voando. Quando não houver segurança, eles evidentemente não vão decolar”.