Cúpula em Lisboa é política, mas pode retomar diálogo comercial entre Mercosul e Europa

03/07/2007 - 16h20

Mylena Fiori
Enviada especial
Lisboa (Portugal) - Brasil e União Européia realizam amanhã (4) sua primeira cúpula de chefes de Estado e governo, em Lisboa. O encontro, que abre a agenda de Portugal na presidência do bloco europeu, lançará uma parceria estratégica e passará em revista os principais temas da pauta política e econômica bilateral e regional.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará da reunião com a chamada tróica* do bloco: o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, o primeiro-ministro português, José Sócrates, e o primeiro-ministro da Eslovênia, Janez Jansa (o país ocupará a presidência do Conselho de Ministros depois de Portugal).De acordo com o Itamaraty, Brasil e União Européia farão uma avaliação das relações bilaterais e dos cenários europeu e latino-americano. É nesse contexto que entrará em pauta a possibilidade de retomada das negociações para o acordo bilateral entre Mercosul e UE, paralisadas desde 2004."Este não será um foro de negociação do acordo Mercosul-União Européia. É uma instância política que poderá contribuir para alcançarmos os resultados que queremos. A mesma coisa vai acontecer com a Rodada Doha", destaca a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, chefe do Departamento de Europa do Itamaraty.A atual rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio corre o risco de congelar de vez após o fracasso da última reunião do G 4 – grupo formado por Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia, que vinha tentando conciliar posições entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento para facilitar um acordo entre os 150 membros da OMC. Com a implosão do grupo no encontro de Potsdam (Alemanha), as negociações ficam na dependência de um impulso político, como o presidente Lula disse na ocasião.De acordo com o porta-voz da Presidência da República, o diplomata Marcelo Baumbach. a Rodada Doha deve ser discutida não apenas na Cúpula em Lisboa, mas também em jantar oferecido pelo presidente português, Aníbal Cavaco Silva, em homenagem ao presidente Lula, com a presença de chefes de Estado e governo da França, Eslovênia, Itália, Alemanha, Finlândia, Hungria, Eslováquia, Letônia e Países Baixos.Ainda no âmbito do diálogo bilateral que será travado na primeira Cúpula Brasil-União Européia, devem ser abordados o combate à pobreza e a questão energética, com ênfase em biocombustíveis e mudanças climáticas. A parceria com o Brasil em matéria de energias renováveis interessa particularmente aos europeus, pois os países do bloco dependem da importação de petróleo e gás.Além disso, a preocupação com o meio-ambiente levou a Europa a se impor uma meta: adicionar 5,7% de etanol à gasolina até 2010. Até 2020, a meta é substituir 10% de todo o combustível utilizado pelos 27 países-membros por energias renováveis – hoje, a participação é de apenas 1%.O tema será aprofundado na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, na quinta-feira (5), em Bruxelas, em que Lula será o único chefe de Estado presente, como convidado de honra. Serão discutidas questões políticas e econômicas relacionadas ao desenvolvimento da produção de biocombustíveis a partir de quatro temas-chave: que tipo de mercado internacional se quer criar, as conseqüências para os países em desenvolvimento, os desafios ambientais e os esforços tecnológicos necessários.Também participarão da reunião de cúpula o Alto Representante para a Política Externa da UE, o espanhol Javier Solana, os ministros de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e de Portugal, Luís Amado, e os comissários europeus de Relações Exteriores e Políticas de Vizinhança, Benita Ferrero-Waldner, e de Comércio, Peter Mandelson.