Agência Lusa
Díli (Timor Leste) - A crise política no Timor Leste em 2006 acabou sendo "salutar", uma vezque tornou os líderes políticos "mais realistas,humildes e prudentes", afirmou hoje (30) o presidentetimorense, José Ramos Horta."A crise foi salutar. Tornou-nos a todosmais realistas, humildes e prudentes. Acredito que vamos entrar numnovo capítulo na vida deste país", disse, após ter votado nas eleições legislativas em uma escola de Meti Haut, bairroonde mora, no leste de Díli.Ramos Horta afirmouacreditar que a "crispação" que reinou nacampanha eleitoral entre o secretário-geral da Fretilin(partido majoritário no Timor), Mari Alkatiri, e XananaGusmão, ex-presidente e líder do Congresso Nacional daReconstrução de Timor Leste (CNRT, partidorecém-criado), serão superadas após a votação,"até porque são amigos"."Seguiessas divergências com alguma consternação,porque, ao fim e ao cabo, Alkatiri e Xanana são amigos ecomungam as mesmas preocupações. Mas é naturalque, durante a campanha, seja difícil sermos mais comedidoscom a linguagem. Tenho falado com os dois, e Alkatiri só tevepalavras de amizade para com Xanana Gusmão".Ao afirmar que pode "ajudar a aproximarposições", Ramos Horta - que recebeu o Nobel da Paz de1996 - assegurou que, seja qual for o partido vencedor, terá deconversar com outras forças políticas, uma vez que"será difícil" que qualquer um obtenhamaioria absoluta."Mas estarei sempre disponívelpara aproximar posições entre os diferentes partidospara que o país possa ter um governo estável o maisdepressa possível. Nãovejo qual é a impossibilidade de os dois partidos cooperarem anível da governação".Visivelmentebem disposto, o presidente se recusou a revelar o seu voto. Mas,ironizando, disse ter votado "nos meus amigosjornalistas"."Quem lê o que os jornalistas,portugueses e timorenses, escreveram ao longo de anos, se nósos colocássemos a governar em vez de nós, em vez de asnossas águas e ribeiras estarem sujas, teríamos leite emel a jorrar, em vez das estradas com buracos, elas estariam cobertasde ouro, e as árvores ao longo das estradas teriam frutossaborosos, como no Paraíso".O presidente acrescentou que jornalistas "não são maus", são sonhadores. "E épreciso sonhar. De tanto escreverem assim, fiquei convencido e voteinos meus amigos jornalistas".Apósvotar, o presidente timorense entrou num táxi. De sapatilhas, jeans, uma camisa branca e sem óculos escuros, decidiu "dar uma volta pela cidade". "Vou passearpela cidade. Assim chama menos a atenção, nãogosto de viaturas de escolta".