Brasil precisa reconhecer seus próprios padrões de beleza, avalia consultora da ONU

30/06/2007 - 9h44

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Mulheres loiras, magras e jovens ainda representam um padrão de beleza no Brasil. Para valorizar e promover a diversidade cultural, o país precisa desconstruir estereótipos como esse e aceitar padrões nacionais de beleza, como a pele negra e os cabelos cacheados. A opinião é da conselheira para as Nações Unidas (ONU) na Unidade de Cooperação Especial Sul-Sul, Lala Deheinzelin. Ela participou esta semana do Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural, em Brasília.Deheinzelin avalia que, atualmente, apenas uma pequena parte da sociedade tem se preocupado com a preservação e promoção da diversidade cultural. “O desejo existe dentro de um grupo de especialistas e estudiosos que têm uma visão de futuro”, afirmou. A maioria da sociedade, segundo ela, ainda está muito ligada aos padrões impostos pelos veículos de comunicação e renega o que é diferente, passando a considerá-lo feio.“ O ideal de beleza, por exemplo, associado à magreza e a juventude são as grandes forças que estão no dia-a-dia e no imaginário da população e na imagem do que se deseja ser”, diz ela. “Isso é muito terrível, especialmente, com as mulheres.”Os estereótipos, ressalta, não representam a felicidade e acabam gerando sofrimento. Para a conselheira, é preciso que a sociedade cobre dos veículos de comunicação de massa a representação da diversidade. “Uma das maiores ameças está nas revistas de celebridade, impondo padrões de desejo que não correspondem à realidade das pessoas”. Essas revistas passam a impressão de que o Brasil tem mais loiras do que a Suécia, diz ela. A falta de representação da cultura nacional nos veículos de comunicação também gera outro problema. Faz com que as crianças cresçam sem a noção da importância da diversidade, da diferença. “Todo mundo quer ser a Xuxa ou as Paquitas, o que faz com que todos, desde pequenos, tentem ser o que não são”. A massificação de imagem produz não apenas padrões pouco diferentes, mas também “perversos”. Na contramão desta tendência, a sugestão de Deheinzelin é diminuir a hegemonia dos veículos de comunicação em relação à globalização, ou seja, democratizá-los. “No momento em que você amplia a quantidade de imagens, diversifica o que está sendo visto e aumenta a possibilidade de as pessoas se identificarem.” Outro papel importante, que cabe à sociedade, é cobrar que a diversidade cultural não seja apensa preservada no âmbito das minorias, das culturas tradicionais, mas também nas realidades urbanas. “Devido à cultura digital e os avanços da tecnologia, são os jovens que poderão liderar isso”, diz ela.A diversidade cultural é tema da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Criado em 2005, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco), o acordo foi assunto de um seminário realizado esta semana em Brasília. A idéia era discutir como os países podem criar mecanismos para defender a diversidade cultural.