Turistas portugueses trocam Brasil pelo Caribe, alerta embaixador

05/06/2007 - 11h49

Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil está perdendo turistas para países do Caribe e precisa fazer uma política mais agressiva de divulgação se quiser continuar sendo o destino preferido dos portugueses. A opinião é do embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, nesta segunda parte da entrevista concedida na Embaixada em Brasília.Agência Brasil: A ministra do Turismo,Marta Suplicy, esteve em Portugal e incentivou portugueses avisitarem destinos alternativos no Brasil, não apenas oNordeste. Houve algum contato com o governo português nessesentido?Francisco Seixas da Costa: Houve e há umaação comum entre a Embratur e a [companhia aérea]TAP para promoção de novos destinos turísticosno Brasil, em particular no Centro-Oeste. Mas vale a pena ter umaidéia realista do que está se passando nos últimosanos. Não devemos ter noção de que há umabola de neve crescente. Houve uma diminuição dosturistas portugueses no Nordeste no último ano, uma diminuiçãosensível, na casa dos 20%. Isso nos preocupa, e preocupanaturalmente as autoridades turísticas brasileiras. Pensamosque é importante haver uma promoção do Brasilmais forte em Portugal, de forma a compensar o apelo de outrosdestinos. O caso mais típico é a Jamaica, mas váriosoutros destinos do Caribe estão aparecendo como concorrentesdo Brasil. (...) O Brasil não pode dormir à sombra da bananeira em matéria de promoção turística em Portugal.ABr: Qual é oprincipal destino turístico dos portugueses mundialmente?Costa: É o Brasil. Querdizer, julgo que o Brasil concorre com o resto da Europa, mas nãoé esse turismo que compete com o Brasil. O turismo brasileirocompete com mercados sol e praia, como Caribe e alguns no norte daÁfrica. Portanto, é importante haver uma políticaagressiva para garantir que os portugueses continuem a vir para oBrasil.ABr: O senhor julga entãoque a Embratur deveria...Costa: A Embratur tem feitoseu trabalho, e tem feito bem. Só que agora aparecem novosconcorrentes e terá que haver uma nova estratégia, paratentar compensar essas tendências centrífugas que severificam em relação a outros mercados.ABr: A queda no Nordeste tema ver com o assassinato dos turistas portugueses em Fortaleza (em2001, seis corpos foram encontrados num buraco cavado dentro de umquiosque na praia)?Costa: Não. Depoisdisso, o turismo cresceu exponencialmente. Esse incidente nãoteve a menor repercussão no turismo português. Nãohá nenhum elemento factual que justifique a não vindade turistas portugueses, isso tem mais a ver com o apelo de outrosmercados e a diversidade da oferta.ABr: O estigma da violêncianão “cola” em Portugal, não amedronta os turistas?Costa: A violência éalgo que naturalmente funciona em contraciclo com a promoçãodo Brasil de maneira geral. Mas eu diria que, particularmente tendoem conta o tipo de turismo que se faz no Nordeste, em pequenosresorts e praias mais ou menos vigiadas, não se sente muitoesse fato. Globalmente, julgo que é patente que o destinoBrasil aparece por vezes marcado por uma imagem, e eu diria que atéexcessiva, da questão da violência. Porque nastelevisões mundiais passam muitas vezes cenas de violênciano Rio, quando todos nós sabemos que essa não éa realidade brasileira. O Brasil é um país pacífico,onde as pessoas normalmente não são assaltadas nas ruase não estão sujeitas a atos de violência. Achoimportante desdramatizar essa questão, e em Portugal isso temsido feito. (...) Em geral, no ano 2006, a TAP transportou para oBrasil menos 2% de turistas do que em 2005. Mas para o Nordeste,transportou 13% ou 14% menos.(continua)