Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na última parte da entrevista com o embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, foram abordadas a relação comercial entre os dois países e a política energética da União Européia, que ainda não existe, mas vai levar em conta o papel brasileiro na produção de biocombustíveis, segundo ele.Agência Brasil: O petróleo jáé o principal produto de exportação do Brasilpara Portugal e os dois países assinaram recentemente umacordo para exploração em águas portuguesas...Francisco Seixas da Costa: Exato, mas aconcretização na prática não vai ocorrerantes de 12 anos. É um acordo entre Petrobras, Galp e Partexque permitirá fazer exploração na costaportuguesa e, no caso de haver petróleo, a exploraçãoser feita em conjunto. Isso corresponde a uma segunda fase de algoque já ocorre. As três empresas exploram em conjuntoalgumas plataformas aqui na costa brasileira, portanto há umacolaboração íntima. O petróleo é oprincipal produto comercial entre os dois países, mas acriação da plataforma comercial da Apex [Agênciade Promoção de Exportações eInvestimentos] em Lisboa, no ano passado, pode dinamizar muito ocomércio brasileiro em Portugal. Há sempre empresasbrasileiras em eventos em Portugal, como está a aconteceragora com a Alimentaria.Portanto, há um tráfego comercial intenso. E se olharpara as percentagens de crescimento do comércio, estãoem dois dígitos há vários anos, num sentido ouno outro. Embora o Brasil exporte muito mais. Mas não podemoscolocar para competir o vinho e o azeite com o petróleo. Sãolíquidos diferentes (risos).ABr: O déficitcomercial português, então, não é umaquestão relevante (de janeiro a abril, o Brasil exportou US$480,2 milhões, sendo US$ 138,2 milhões de óleosbrutos de petróleo, e importou US$ 106,7 milhões)?Costa: Não. Porquequando o petróleo está envolvido, não hádéficit comercial que agüente. Aquela idéia antigadas taxas de cobertura e da necessidade de haver equilíbrionas trocas comerciais não tem sentido quando háprodutos petrolíferos envolvidos, só quando háprodutos comerciais normais.ABr: Como Portugal se colocafrente à questão energética e à busca porfontes menos poluentes de energia?Costa: Energia ainda nãoé uma política comum dentro da UE. Os países tempolíticas energéticas diferentes e dependênciasdiferentes. Portugal importa todo o seu petróleo, importa gásda Argélia e da Nigéria. (...) Hoje em dia, háconsciência dentro da UE de que é preciso ter umapolítica energética, em que têm que entrar oscomponentes tradicionais e temos que olhar para a questão dasenergias renováveis e os biocombustíveis. O Brasil éhoje líder mundial nessa matéria e seguramente vai teruma relação direta com a União Européia.O presidente Lula, no dia 5 de julho, estará em Bruxelas parauma reunião [Conferência Internacional sobre Biocombustíveis] em que seráquase o convidado de honra, porque [o Brasil] é o paísque tem uma liderança nessa matéria. Portanto, acho queessa relação com o Brasil vai também contribuirpara que a União Européia tenha uma posiçãocomum.