Indianos querem conhecer mais do Brasil do que futebol e samba, diz antropóloga

01/06/2007 - 19h44

Mylena Fiori
Enviada especial
Nova Delhi (Índia) - Pergunte a um indiano oque sabe sobre o Brasil: “futebol, Ronaldinho, samba”. Mas arecíproca não é muito diferente. Os brasileirostambém enxergam a Índia de forma estereotipada e reduzem uma culturamilenar a meia dúzia de referências, como Buda, Gandhi,insensos, bordados coloridos e pobreza.A aproximaçãocultural é um desafio para os dois países, na opiniãoda antropóloga brasileira Marilda Batista, que vive háum ano e meio na capital Nova Delhi e é professora visitantede Estudos Brasileiros na Jawaharlal Nehru University, uma dasprincipais universidades públicas da Índia.“Existe um enormedesconhecimento. Tudo fica em termos de clichês, deestereótipos do que seria o Brasil. A Amazônia, ofutebol, o carnaval são as imagens que eles recebem na mídiaindiana. Mas há um interesse muito grande em conhecer o que éexatamente isso e não ficar limitado aos clichês”,avalia a antropóloga, que faz parte da Rede de Leitorado,programa do governo brasileiro que leva professores doutores eespecialistas em língua portuguesa e cultura brasileira auniversidades em 22 países.Na Índia, oleitorado desenvolve atividades nas cidades de Nova Delhi e Goa.Marilda utiliza filmes, documentários e letras de músicaque refletem a realidade brasileira como meio de propagaçãoda cultura brasileira entre jovens indianos. A relaçãode filmes já exibidos em sala de aula inclui O Homem queCopiava, Cidade de Deus, Carandiru e Central do Brasil.“Asimagens têm um efeito imediato. Vendo filmes, exposiçõesde arte brasileira e mesmo experimentando nossa gastronomia, aspessoas podem entrar no universo conceitual do Brasil. Isso émuito importante”, acredita. Em Nova Delhi, por exemplo, nãohá nenhum restaurante brasileiro.Essa aproximaçãopode impulsionar as relações comerciais, acredita aantropóloga, que confessa ter chegado à Índiacheia de receios e conceitos pré-estabelecidos. “A cultura,antes de mais nada, é compreender o outro. Para se estabeleceruma relação política e comercial, éimportante conhecer o universo do outro, poder se colocar um pouco nolugar do outro”, avalia.A menos de trêsdias da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva àÍndia – marcada para domingo (3) –, a NDTV, um dosprincipais canais indianos de notícias, com transmissãoem inglês 24 horas, exibiu longa reportagem sobre o Brasil. Oespecial, chamado Lula’s Brazil (O Brasil de Lula), mostrou, sim,futebol e novelas. Mas definiu o país como potênciaagrícola, deu ênfase às atividades da Embraer emostrou o Brasil como exemplo a ser seguido no que se refere àprodução e uso do álcool combustível.Acordo nessa área poderá ser firmado entre os doispaíses nos próximos dias.