Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e em situação de risco social vão receber atendimento psicoterápico em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O atendimento inclui os autores da agressão. A iniciativa, lançada hoje (25), faz parte do Projeto Lugar da Palavra, uma parceria entre a Petrobras, a prefeitura de Nova Iguaçu e a Organização Não-governamental Núcleo de Assistência à Violência (Nav). No período de um ano, a expectativa é 120 vítimas e 20 agressores. Além disso, o projeto oferecerá capacitação a 80 profissionais do município que atuam nas áreas de educação, saúde, Justiça e assistência social e que lidam diariamente com dificuldades relacionadas a situações de violência doméstica."Numa situação de violência doméstica, é muito complicado o trabalho com a criança e o adolescente se não há também uma atenção para a relação com o autor da agressão", diz a coordenadora do projeto, a psicóloga Paula Mancini Ribeiro. "A gente trabalha tentando transformar essa situação, sem prender a criança no lugar de vítima, o autor no lugar de agressor, porque tem muitos sentimentos, até mesmo contraditórios, envolvidos. Não é só a violência”.Desde março, a equipe do projeto está recebendo as primeiras demandas de atendimento. Cerca de 30% das vagas já foram preenchidas, a maioria delas, por crianças que sofreram abuso sexual grave e foram encaminhadas por órgãos ligados à Justiça.O trabalho preliminar também incluiu a construção de uma rede de contatos com uma série de instituições e profissionais do Programa de Saúde da Família, com hospitais, centros de saúde mental e coordenação pedagógica de escolas públicas. O objetivo é que esses profissionais possam encaminhar casos ao atendimento psicoterapêutico, bem como permitir que vítimas e agressores sejam encaminhados a outros serviços depois de receberem o apoio psicológico. "O trabalho em rede é muito importante para abordar as situações de violência. Muitas vezes, a criança precisa ser inserida em outra atividade. Então, a gente mantêm esse contato, seja com a escola, com o atendimento médico, ou que for necessário”, diz Ribeiro.Além da violência doméstica – física, sexual, psicológica ou de negligência - o projeto também atende crianças em situações de risco, como por exemplo, em conflito com a lei, com relações com o tráfico de drogas ou com a prostituição. A Petrobras investiu cerca de R$ 500 mil na ação. "A atual situação de violação dos direitos da criança e do adolescente exige com urgência a construção de práticas efetivas que possibilitem enfrentar e mudar essa realidade", avalia a gestora do projeto na Petrobras, Janete Ribeiro da Mota.O Núcleo de Assistência à Violência (Nav) atua desde 1995 em Nova Iguaçu e atende a cada ano pelo menos 100 casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes. Cerca de metade deles refere-se a abuso sexual.