Operação Navalha desmascarou irregularidades na relação entre Estado e setor privado, diz Tarso

23/05/2007 - 20h24

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse hoje (23) que a realização da Operação Navalha, da Polícia Federal (PF), representa um grande avanço para o país. “O Estado brasileiro deu um grande salto republicano nesse processo, porque todos nós sabemos que, ao longo da história, as relações do Estado com o setor privado, em que pese tenham sido relações muito importantes para o país, também determinaram perversões e ilegalidades”, disse Genro. Em conversa com os jornalistas sobre a operação coordenada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o ministro afirmou que ela foi “muito bem sucedida”. Desde o dia 17, a Operação Navalha já prendeu 48 pessoas e investiga um suposto esquema de fraude em licitações e de desvio de recursos públicos federais. Para o ministro, embora a investigação de crimes possa ser interpretada como um sinal de que o Estado convive com "um grau excepcional de corrupção”, a ação da PF é mais uma prova de que as irregularidades cometidas por qualquer um passaram a ser descobertas e investigadas. “Essas ilegalidades, que são recorrentes no país, ainda não tinham sido flagradas em profundidade em função da falta de meios técnicos. O que vem ocorrendo nos últimos dez anos, e muito fortemente nos últimos quatro anos, é que com o aperfeiçoamento da PF, com a ampliação dos poderes da Procuradoria e a qualidade do Poder Judiciário, elas passaram a ser flagradas de forma mais ostensiva”, afirmou o ministro, para quem os organismos de controle do Estado alcançaram um grau de eficácia próximo ao dos países desenvolvidos. Tarso Genro garantiu que novas operações vão ocorrer e que algumas já estão em curso. Ele negou qualquer orientação do governo ou da direção da PF para que parlamentares ou integrantes de partidos políticos sejam investigados com maior rigor. E afirmou que a Operação Navalha terminou de maneira "dolorosa" para o próprio governo, com a saída de Silas Rondeau, envolvido pelas denúncias, do Ministério de Minas e Energia. Ele admitiu ter sugerido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Rondeau que, diante dos indícios de envolvimento do ex-ministro no esquema, o melhor seria que ele deixasse o cargo. "Os elementos que estão dispostos até agora no inquérito em relação ao ex-ministro são indícios. É bom que se diga isso porque, aparentemente, ele já foi julgado e condenado. Não há nenhuma prova conclusiva do envolvimento dele, mas na minha avaliação, esses indícios criam a possibilidade de o procurador-geral da República denunciá-lo ou remeter o inquérito para o tribunal competente”. Tarso Genro também admitiu ter tido acesso à relação de pessoas citadas no inquérito, mas disse não saber ao certo o número de políticos envolvidos.