Entrevista 1 - Brasileiros e chilenos poderão contar tempo de trabalho para aposentadoria fora de seus países

25/04/2007 - 13h53

Mylena Fiori
Enviada especial
Santiago (Chile) - Os brasileiros radicados no Chile poderãocontar os anos trabalhados no país vizinho para fins deaposentadorias. O mesmo poderá ser feito por chilenos quetrabalharem no Brasil. Convênio neste sentido seráfirmado amanhã (26) entre os dois países durante avisita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Santiago. Segundo o embaixador brasileiro no Chile, Mario Vilalva, hácerca de 3 mil brasileiros vivendo no Chile. A lista de acordos que serão firmados entreos dois países inclui a transferência de tecnologiabrasileira para a produção de biocombustíveis.Na área de educação, ministérios dos doispaíses firmarão memorando de entendimento sobreinclusão digital e integração curricular.No setor de turismo, Brasil e Chile lançarãoa Rota Pantanal - Deserto do Atacama. Segundo Mario Vilalva, tambémhá expectativa quanto a uma parceria entre a EmpresaBrasileira de Aeronáutica (Embraer) e a estatal Enaer (EmpresaNacional de Aeronáutica do Chile) para fornecimento de peçasà empresa brasileira.Os acordos dão seguimento a uma aproximaçãoque começou há a cerca de quatro anos, ainda no governodo ex presidente chileno Ricardo Lagos, e foi reafirmada na chamada“Aliança Renovada”, durante visita da presidente MichelleBachelet ao Brasil logo após sua posse, há um ano.Nesta entrevista exclusiva à AgênciaBrasil, o embaixador do Brasil no Chile conta o porquê dareaproximação e comenta temas da agenda bilateral einternacional. Repassando a história e citando números,Mário Vilalva garante que Brasil e Chile só têm aganhar com o aprofundamento da parceria. Agência Brasil: Háum ano, durante vista da então recém-eleita presidentedo Chile ao Brasil, os dois países lançaram a chamadaAlianza Renovada. O que isso significa, exatamente? Trata-se de umanova fase da relação bilateral?Mário Vilalva: Quando a presidenteMichele Bachelet esteve no Brasil logo que tomou posse, os doispresidentes decidiram batizar esta fase da relaçãobilateral como Aliança Renovada. Durante algum tempo, nos anos90, sobretudo, o Chile se afastou um pouco da América do Sul eaté da América Latina como um todo, procurando outrosparceiros no mundo. O Chile se globalizou muito rápido efirmou tratados de livre-comércio com praticamente todos osgrandes atores internacionais. Hoje, tem tratados de livre-comérciocom 85% do PIB mundial [da economia mundial, ou dos paísesresponsáveis pela produção dessas riquezas].Nos dois últimos anos do governo Lagos, o Chile começoua se dar conta de que não pode e não deve olharunicamente para fora do continente, que precisava tambémvoltar seus olhos para dentro do continente e se integrar em seupróprio ambiente geográfico. É aqui que ele vaireunir as forças, as associações comerciais parapoder enfrentar a demanda desses acordos que fez lá fora.Assim, o Chile volta para a América do Sul.ABR: Foinesse contexto que o presidente Lagos fez visita de Estado ao Brasilem 2003 e Lula retribuiu em 2004…Vilalva: Exatamente. Nesse retorno do Chilepara a América do Sul há a preocupação demelhor as relações com a Argentina, com a Bolívia,com o Peru. Mas o eixo central da política externa chilena naAmérica do Sul é, obviamente, as relaçõescom o Brasil. Da nossa parte, acolhemos muito bem esse retorno doChile ao nosso ambiente geográfico e, por isso, essa novaetapa da relação foi chamada de AliançaRenovada. Agora, a visita do presidente Lula tem um significado muitoimportante no contexto dessa aliança renovada, no contexto daconstrução dessa América do Sul, no contexto detrazer o Chile mais para dentro da América do Sul.ABR: Porque essa relação com o Brasil é tãoimportante para o Chile? A recíproca é verdadeira?Vilalva: O Chile sempre teve com o Brasilrelações absolutamente exemplares. Provavelmente pelofato de que não temos fronteiras físicas, desde a épocada monarquia brasileira se desenvolveu uma relaçãopoliticamente muito especial. O famoso baile da Ilha Fiscal era emhomenagem aos chilenos. Isso era produto da amizade que havia entreos dois países. Tínhamos uma aliança estratégicanatural naquela época em que o Brasil tinha imensos problemasno Prata. Desde então, não há um problemapolítico entre Brasil e Chile. Agora, é o momento dedarmos um pouquinho de carne a isso. Já que temos uma relaçãopolítica tão boa, vamos aproveitar isso e dar maissusbstância a esta relação.ABR: Deque forma isso pode ser feito?Vilalva: A visita do presidente tambémtem esse sentido. Vamos falar um pouco mais em aumento de comércio,aprofundamento do acordo Mercosul-Chile. Até junho a genteincorpora a área de serviços ao acordo. Vamos falar emmais investimentos. O Chile tem investimentos da ordem de US$ 6,5bilhões de dólares. Ë o maior investidorsul-americano na economia brasileira e o segundo parceiro comercialna América do Sul, atrás da Argentina.