Certificação é pré-requisito para expandir produção de biocombustíveis, adverte ambientalista

26/03/2007 - 19h59

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente da Conservation International do Brasil (CI-Brasil), Gustavo Fonseca, afirmou hoje (26) que a expansão da  fronteira agrícola para a produção de biocombustíveis no país pode ir contra ou a favor dos preceitos de preservação do meio ambiente. “A questão agora é como essa expansão se dá: se de uma maneira responsável, de uma maneira sustentável,  ou como ocorreu no passado, que deixou um passivo ambiental e social enorme”, alertou.Fonseca participou da abertura do seminário A Expansão da Agro-Energia e os Impactos sobre os Ecossistemas Brasileiros, promovido pela organização não-governamental em parceria com a Fundação Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável (FBDS), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E afirmou que existe oportunidade de se realizar essa expansão de modo responsável, agora que o mundo vê a importância da bio-energia no controle das mudanças climáticas e na geração de renda e de benefícios sociais. Segundo ele, não basta simplesmente falar que a expansão da agricultura destinada à produção de biocombustíveis será feita em áreas degradadas, sem discutir a fundo a questão. A ampliação da cultura da cana-de-açúcar, acrescentou, pode ocorrer em função da existência de pastagens e de áreas degradadas. Na prática, entretanto, os resultados podem ser diferentes. Na avaliação de Fonseca, "a dinâmica da cadeia produtiva costuma ser mais forte e mais difícil de se prever do que a intenção original de se direcionar o cultivo para o espaço geográfico pré-selecionado". É necessário, frisou,  o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental para o processo produtivo, com critérios de  uso da terra que inibam a abertura de novas frentes de desmatamento em áreas consideradas prioritárias para a conservação da natureza. Esses critérios, segundo ele, poderiam servir de embrião para a certificação dos biocombustíveis, partindo de experiências de outras commodities agrícolas que já estão no mercado. A utilização da agricultura familiar para a produção de biocombustíveis, evitando a degradação do meio ambiente com o desenvolvimento dos chamados municípios-modelo, é um dos caminhos que podem ser adotados, admitiu Gustavo Fonseca. A idéia é defendida pelo presidente da FBDS, Israel Klabin. Fonseca destacou que os biocombustiveis podem representar uma vantagem comparativa para o Brasil, que domina a tecnologia de escala. Ele lembrou, por outro lado, que o crescimento da produção do etanol vai ultrapassar as fronteiras brasileiras. Usando a tecnologia do Brasil, com capital estrangeiro e áreas de outros países, como os da África, ele disse ver possibilidade de ampliar a produção de biocombustíveis."O Brasil foi trazido para o palco de discussão em função dos avanços alcançados na área do etanol nos últimos 30 anos e, mais recentemente, na de biodiesel", lembrou. Sobre a possibilidade de substituição dos combustíveis fósseis em automóveis, destacou que o cenário menos danoso para a sociedade nos próximos 50 anos significaria reduzir a taxa de emissão atual, de 14 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, para 7 bilhões de toneladas. Um dos cenários propostos para auxiliar nessa meta seria eliminar 1 bilhão de toneladas de carbono por ano com uso do etanol por uma frota de 2 bilhões de carros: para isso, segundo Fonseca, seriam necessários 250 milhões de hectares, ou o equivalente a 1/6 de toda a área cultivada no mundo. Esse número representa 50 vezes a produção de etanol do Brasil. Por isso, advertiu, compatibilizar a expansão da produção de biomassa com a proteção dos ecossistemas não será tarefa fácil. A Conservation International é uma organização ambientalista privada criada em 1987, dedicada à conservação e utilização sustentada da biodiversidade. Atualmente, trabalha para preservar ecossistemas ameaçados de extinção em mais de 30 países, em quatro continentes.