Delegado do Rio de Janeiro levantou suspeita de desvios na exportação de armas

25/03/2007 - 11h47

Vítor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O caso aconteceu na favela da Cidade de Deus. Em uma troca de tiros, um homem é morto e a polícia encontra, com ele, uma pistola calibre 9 mm, da fábrica brasileira Taurus. A cena seria comum, se a arma não tivesse o brasão do governo do Sri Lanka, ilha localizada ao sul da Índia.O homicídio e a apreensão da arma foram, na época, investigados pelo delegado Elir Clarindo, então lotado na Delegacia da Taquara, responsável pela área da Cidade de Deus. Segundo ele, a pistola teria sido uma encomenda do governo do Sri Lanka, que já saiu da fábrica da Taurus com o brasão forjado.“Isso aconteceu por volta de 2002. Acreditamos que a pistola não foi para o Sri Lanka e depois voltou, contrabandeada para cá. Isso não faz sentido. Por isso, pensamos que ela poderia ter sido desviada aqui mesmo, dentro do Brasil”, conta o delegado, que, na época, não conseguiu esclarecimentos do fabricante da arma e que não pôde se aprofundar nas investigações porque essa é uma atribuição da Polícia Federal.O delegado, que hoje é titular de outra delegacia, informou à Agência Brasil que o caso não é isolado. Ele suspeita de muitas armas que teriam sido supostamente vendidas à Bolívia, ao Paraguai e aos Estados Unidos, mas que sequer saíram do país.“Muitas delas não saem do país. Ou são vendas de fachada ou são frutos de desvios que acontecem durante a exportação”, conta Clarindo, que prestou depoimento à CPI das Armas, em 2005. O caso acabou sendo inserido no relatório final da CPI, em novembro do ano passado.O relatório também destacou outro indício de que possa haver desvio na exportação de armas brasileiras para o exterior, permitindo que elas caiam nas mãos de criminosos dentro do Brasil. Segundo o documento, o deputado paraguaio Blas Llano, que presidiu uma CPI semelhante no Paraguai. Ele afirmou, em 2001, que uma média de oito entre cada 10 contêineres exportados daqui para seu país ficavam dentro do próprio Brasil e apenas seus papéis viajavam.