Levantamentos mostram que cerca de 80% das armas apreendidas são nacionais

24/03/2007 - 1h34

Vítor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Cerca de oito em cadadez armas apreendidas de criminosos no Brasil nos últimos anossão de fabricação nacional. As constatações,feitas por órgãos de segurança do Rio deJaneiro, São Paulo e Distrito Federal, foram divulgadas emnovembro do ano passado, no relatório final da CPI das Armas,da Câmara dos Deputados.Dentre os trêsestados, o Distrito Federal é o com maior índice dearmas brasileiras no arsenal do crime. Entre 1982 e 2003, foramapreendidas 25 mil unidades, das quais 87% foram produzidas emfábricas brasileiras. São Paulo também apresentaíndice semelhante: 85% das 43 mil armas apreendidas pelapolícia entre 2003 e 2006 são nacionais.O Rio de Janeiro foi olocal mais estudado pela CPI das Armas. Do armamento apreendido pelapolícia entre 1951 e 2003, 81% eram produtos brasileiros. Noestado, quase 70% do arsenal do crime são revólveres,equipamentos tipicamente nacionais. Outros 13% são formadospor espingardas e garruchas, também em sua grande maioriabrasileiras. As pistolas, que representam 16 entre cada 100 armasapreendidas também provêm, em grande parte, da indústrianacional.A CPI aponta pelo menosdez estratégias utilizadas pelo crime para conseguir armasbrasileiras, entre as quais o extravio de armas das forçasarmadas e polícias, a venda ilegal pelo comércioautorizado e o roubo dos cidadãos.Mas a falta defiscalização das indústrias de armas tambémé citada na CPI. Isso porque, segundo o relatório, ocrime também poderia se beneficiar com o controle falho doscarregamentos saídos das empresas fabricantes, com umafiscalização governamental precária do processode exportação e com problemas na identificaçãode cada arma que sai das fábricas.“As armas, quandosaem das nossas fábricas, não são fiscalizadas.O Exército deveria acompanhar o transporte, mas não fazisso. Quem faz é a própria empresa. Ora, a empresa nãopode fiscalizar a própria empresa. Então, hádesvio no transporte e na venda de armas nas lojas, como a CPImostrou”, explica o sociólogo Antônio Rangel Bandeira,da ONG Viva Rio.Mesmo entre os fuzis,armas que são em sua maior parte provenientes de fábricasdo exterior, como as americanas Colt e Rugger, despontam armasbrasileiras. Os fuzis da Imbel estão em terceiro lugar entreos mais apreendidos pela Polícia do Rio de Janeiro, entre 1993e 2003. Pelo menos 200 estavam nas mãos de criminosos.O pesquisador do Núcleode Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense,Ronaldo Leão, defende a necessidade de haver uma indústriabélica forte no país. Ele isenta as empresasfabricantes de culpa pela existência de armamento brasileironas mãos de criminosos, já que, para ele, se nãohouver armas brasileiras, o criminoso vai buscá-la em outrospaíses.“Bandido sempre vaiarrumar arma. Não há mecanismo de controle capaz deevitar que um sujeito consiga arma se quiser praticar um crime. Elevai importar a arma, a pistola chinesa, a pistola chinesa, a pistolaegípcia. O problema não é a arma, ela éapenas uma ferramenta para garantir o tóxico. Enquanto houvertóxico (tráfico de drogas), vai haver arma, seja elanacional, chinesa, americana, japonesa, de onde for”, destaca Leão.Um estudo da Secretariade Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro,divulgado em 2005, mostrou que o contrabando de armas garante ofornecimento de 28% do total do arsenal dos criminosos, dos quais 22%são de armas brasileiras. Isso mostra que apenas 6% doarmamento que está com criminosos do Rio de Janeiro sãocontrabando de armas estrangeiras.