Coordenador diz que transposição possibilita nova fronteira agrícola no Nordeste

23/03/2007 - 18h11

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A transposição de águas podetransformar o Nordeste Setentrional – região mais seca dopaís – na nova fronteira agrícola brasileira. Apossibilidade é levantada pelo coordenador de Projeto deIntegração do Rio São Francisco às BaciasHidrográficas do Nordeste Setentrional, Rômulo deMacedo Vieira , do Ministério da Integração Nacional.Segundo ele, os sertões de Pernambuco (PE), Ceará(CE), Paraíba (PA) e Rio Grande do Norte (RN) podem se tornara “Califórnia brasileira”. Refere-se ao estadonorte-americano, também semi-árido, que tevetransposições de rios e hoje tem uma rica produçãoagrícola.“O Nordeste Setentrional tem excelenteclima e terreno para plantação irrigada, por serpróximo da linha do Equador. Só não tem água.As condições são melhores do que na Califórnia,que possui uma economia muito maior que a brasileira”, ressalta Vieira, destacando o potencial da Chapada do Apodi, formação montanhosana divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. “Podemosinstalar ali uma das maiores fronteiras hidroagrícolas domundo. Falta a água para se transformar num grande pólode desenvolvimento agrícola irrigado, que virá com atransposição do São Francisco”, frisa ocoordenador, em entrevista exclusiva à AgênciaBrasil. Para Vieira, a produção defrutas tropicais com alto valor agregado, como manga, açaíe mamão, pode abastecer os grandes mercados consumidores domundo. “Além disso, essa região éestrategicamente bem localizada, ficando próxima da Europa edos Estados Unidos”, sublinha. Ele cita o exemplo do Chile – “commuito menos condições que nós, produz e exportaquatro vezes mais frutas que o Brasil”.A irrigação dessa fronteiraagrícola, segundo garante o coordenador do projeto, sóvai receber água da transposição quando houverexcedente gerado pelas chuvas, ou seja, a prioridade no abastecimentoserá a população (na região vivem cercade 12 milhões de pessoas). Para abastecer os dois canais datransposição, a Agência Nacional de Águas(ANA) outorgou a retirada contínua de 26 metros cúbicosde água por segundo, ou 1,4% da vazão firme do rio (amínima garantida), que é de 1.850 metros cúbicospor segundo na foz. No período de chuvas, o volume captadopode chegar a 127 metros cúbicos/segundo."Não vai falta água para airrigação. O excedente de água no rio ocorre em40% dos dias durante o ano. É quando vamos retirar essa águaque vai se perder no mar, jogando-a nos reservatórios daregião, suprindo a demanda da população e dairrigação durante os outros 60% do tempo”, explica Vieira. “Se o excedente for para a irrigação, ótimo,pois gera emprego, combate a pobreza e diminui a miséria naregião. A irrigação não pode ser umacoisa maravilhosa no Vale do São Francisco e um pecado no RioGrande do Norte”. Ele afirma que relatório do Banco Mundialaponta a atividade como a que mais combate a pobreza no Nordeste.“Com US$ 5 mil criam-se três empregos, contra US$ 120 mil necessários nasiderurgia.”Segundo Rômulo de Macedo Vieira, caberá àscompanhias de abastecimento dos estados beneficiados pelatransposição gerir os recursoshídricos. Ele diz, ainda, que já existem projetos deirrigação já implantados e outros que aguardam aobra para ser efetivados. “Se o governotambém não garantir água para o crescimentolocal, ninguém vai querer investir lá. Sem águanão há desenvolvimento”, finaliza.