Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A transposição do Rio São Francisco foi criticada hoje (15)durante audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e de DesenvolvimentoSustentável da Câmara dos Deputados. O pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco João Suassunaafirmou em seu depoimento que o projeto é desnecessário porque no Nordeste temmuita água. O que falta, segundo ele, são políticas efetivas para fazer essaágua chegar à população. “Entendemos que não há escassez (de água) no Nordeste, oproblema não é de escassez, é de distribuição”, afirmou.Para Suassuna, a solução passa por interligar as bacias jáexistentes no Nordeste e utilizar a águas dos poços, que segundo ele são cercade 60 mil na região. O uso das cisternas também é defendido pelo especialista,que calcula que uma cisterna de 15 mil litros abasteça uma família de cincopessoas durante oito meses de estiagem.O doutor em recursos hídricos da Universidade Federal do RioGrande do Norte João Abner Guimarães considerou que o projeto de transposiçãopouco tem a ver com o que é mostrado pelo governo e a mídia. Para ele, atransposição irá abastecer grandes açudes e não os que sofrem com a seca. “É omomento de acabarmos com a indústria da seca no Nordeste, alertou. Para a promotora Luciana Khoury, da Bahia, o projeto nãoestá de acordo com as leis brasileiras. “O projeto não atende as leis do país.Há necessidade de aprimoramento, de mudanças”, defendeu. E argumenta que oCongresso Nacional não foi ouvido e que os estudos de impacto ambiental sãofalhos.A realização das audiências pública é outro ponto fraco emdefesa da transposição apontado pela promotora. Segundo ela, as audiênciasforam realizadas nas capitais e as comunidades ribeirinhas foram avisadas compoucos dias de antecedência. Essas condições, segundo a promotora, dificultaramo acesso dos ribeirinhos (aos locais das audiências). Com uma camiseta com a frase “Revitalização sim,transposição não”, o morador de Penedo, em Alagoas, Antônio Gomes dos Santos,defendeu que a revitalização não deve ser feita ao mesmo tempo, mas sim antesda transposição, porque “o rio está fraco”. “O rio se enchia onde se criava ocamarão, se plantava o arroz, hoje estão plantando cana o que é um crimeecológico”, denunciou.A voz dissonante na audiência foi a do ex-presidente doDepartamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) Cássio Aguiar Braga.Favorável à transposição, Braga contestou os argumentos contrários apresentadospelos especialistas e pela promotora.O ministro da Integração nacional, Pedro Brito, foiconvidado para a audiência, mas não compareceu. Parlamentares da comissão lamentarama ausência de representantes do ministério.