Agricultoras do Paraná discutem papel e desafios das mulheres na reforma agrária

07/03/2007 - 13h08

Lúcia Nórcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - Cerca de 700 mulheres saíram de assentamentos e acampamentos de várias regiões do Paraná para participar da “Jornada de Luta em defesa da vida e contra o agronegócio", marcada para amanhã (8) no assentamento Dorcelina Falador, em Arapongas, norte do estado.Segundo a coordenadora da Mobilização de Mulheres do MST, Salete Back, as camponesas aproveitarão a semana internacional da mulher para debater sua participação na reforma agrária, os malefícios do agronegócio e trocar experiências que facilitem a implantação da agroecologia como ferramenta na garantia da soberania alimentar.

“As mulheres que vivem no campo também lutam contra todas a formas de violência, exclusão, discriminação”, destaca Salete Back. A agricultora Marlene Faustino, 34 anos, vive no assentamento Margarida Alves, em Querência do Norte. Ela trabalha cerca de 12 horas por dia na lavoura, mas quando vai fazer uma compra ou tem que preencher cadastro sempre é considerada como “do lar”.“Não acho isso justo, sou uma trabalhadora que contribui no orçamento familiar com o que planto e levo para vender no mercado”, reclama.Marlene, o marido e três filhos plantam mandioca, feijão, arroz e batata em oito alqueires de lavoura. Usam a produção para subsistência e ainda geram uma renda familiar de R$ 400.“A mulher camponesa questiona também sua cidadania pela dificuldade de acesso à documentação”, conta a coordenadora de Mobilização de Mulheres do MST. Salete Back diz que uma minoria possui carteira de identidade, registro civil ou título da terra, documento que possibilita o acesso às políticas de crédito.

A chefe da Divisão de Desenvolvimento nos Assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Maria Cristina Medina, afirma, no entanto, que o Paraná tem o maior índice de mulheres documentadas do país devido aos mutirões de cidadania que o governo do estado realiza e também aos que são promovidos pelo Incra.“No ano passado, o Incra realizou três grandes mobilizações no estado quando foram documentadas, gratuitamente,  1.363  trabalhadoras rurais”, contabiliza Maria Cristina Medina.Segundo ela, nos últimos quatro anos, a mulher passou a existir judicialmente com a criação do Programa de Igualdade de Gênero Raça e Etnia, que teria possibilitado condições de igualdade ao homem e a mulher no processo de reforma agrária.

“A mulher passou a ter direito ao título da terra que cultiva junto com seu companheiro e acesso a créditos agrícolas  como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mulher.”