Para dirigente petista, Bush vem buscar apoio para "fracassos" e etanol é "jogo de cena"

06/03/2007 - 20h25

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Enquanto os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva estiverem conversando na sexta-feira (9), militantes do PT de Lula estarão do outro lado das barreiras de segurança, protestando contra a presença do norte-americano no Brasil. O PT anunciou apoio oficial às manifestações. Na avaliação do secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar, o objetivo político da visita de Bush é tentar conter o avanço da esquerda na América Latina.Segundo Pomar, no encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o norte-americano, George W. Bush, na próxima sexta-feira (9), o “gringo” não dará importância à tão propalada parceria bilateral na produção de etanol. “Ele (Bush) vem buscar apoio à sua fracassada política externa na América Latina", diz Pomar. "Aqui, todos os presidentes que se opõem aos Estados Unidos venceram suas eleições. A única exceção foi o presidente do México (Felipe Calderón), pois houve fraude no pleito”, ressalta Pomar. Segundo o secretário do PT, o governo brasileiro tem ótima relação com os países vizinhos e “não será um instrumento de pressão da política norte-americana”.

Para Pomar, as relações do governo Lula com os Estados Unidos estão corretas, dentro do respeito e da soberania que o Brasil conquistou. “O governo Lula coloca o interesse nacional em primeiro lugar, diferente de administrações passadas que colocavam à frente os interesses norte-americanos”, disse ele.

O secretário avalia que Bush, desgastado politicamente dentro de casa, busca melhorar sua imagem nesse giro pela América Latina (além do Brasil, Bush vai visitar o Uruguai, Colômbia, Guatemala e México), saindo da defensiva e tentando recuperar uma “ascendência perdida”.

Em seguida, Pomar cita uma série de fracassos da política externa norte-americana, que “angariou” repulsa mundial: Guerra do Iraque; golpe de Estado contra Hugo Chávez (presidente da Venezuela); manutenção de presos na base de Guantánamo, em Cuba; recusa em assinar o Protocolo de Quioto.

“É um governo fracassado. O currículo de Bush é lamentável. Ele também busca, com essa viagem, melhorar sua situação interna, pois já perdeu a maioria no parlamento e caminha para uma derrota na eleição presidencial em 2008. Ele tenta sair dessa situação ruim, mas não às custas do Brasil”, assinala o petista. E pontua: “O Bush não engana mais ninguém”.

Quanto a tão comentada parceria bilateral na área de etanol (álcool combustível), com o acerto de regras para o mercado mundial de biocombustíveis, Pomar acha que tudo não vai passar de um “jogo de cena” do presidente dos Estados Unidos.

Para o dirigente do PT, Bush não vai atender o pedido dos usineiros brasileiros, reduzindo o imposto para a entrada do etanol nacional no mercado norte-americano – eles pagam US$ 0,54 por galão, o equivalente a R$ 0,30 por litro, e mais imposto de 2,5%.

“O etanol deles é feito com milho, que sai muito mais caro que o brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar. Bush não vai contrariar os interesses dos produtores de lá. Os gringos só falam em abertura de mercado quando é para obter vantagens, que não é o caso”, diz ele. “O máximo que ele pode fazer aqui é assinar um protocolo, e isso não vai abrir o mercado deles. Bush não tem força nem disposição para fazer isso.”

Em relação à série de protestos que os movimentos populares e as organizações sociais pretendem fazer durante a passagem do presidente norte-americano pelo Brasil, Pomar sublinha que as manifestações têm apoio do PT, e “por isso os quadros do partido são estimulados a participar”. A previsão é de que 30 mil pessoas participem dos atos anti-Bush na cidade de São Paulo.