Estudo do IBGE mostra como está sendo feita a ocupação da Amazônia

25/01/2007 - 17h13

Luiza Bandeira
Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Mais da metade da população que hoje vive na Amazônia Legalé originária de outros estados, principalmente das regiões Nordeste e Sul doBrasil. Enquanto os nordestinos se concentram nas proximidades da rodoviaBelém-Brasília, nas margens do rio Amazonas e no estado do Maranhão, ossulistas se fixaram nas margens da BR-364 e no norte do Mato Grosso, região dafronteira agrícola. Em Rondônia, há uma grande quantidade de migrantescapixabas e mineiros. Esse processo de ocupação da Amazônia é apresentado nos mapas lançados hoje(25) pelo Instituto Brasileiro de Geografias e Estatística (IBGE). O diretor deGeociências do IBGE, Guido Gelli, destacou que por trás de cada homem que foibuscar o ouro em Carajás ou que trabalhou na construção da rodovia Transamazônica,nos anos 70, há uma família. E somente com o conhecimento desta dinâmicapopulacional é que as áreas com potencial para aproveitamento comercial naAmazônia poderão ser utilizadas. Para Guido Gelli, a população amazônica é uma grande representante da força dafloresta, que vem barrando o avanço do desmatamento. “A Amazônia tem essapujança, representada pela própria ministra Marina Silva (do Meio Ambiente),pelo Chico Mendes (líder seringueiro), pelo Jorge Viana (ex-governador do Acre).Essa resistência da população é percebida mesmo com todo o avanço da pecuária,da agricultura e com a ocupação das pessoas que buscaram o Eldorado”, disse. De acordo com os mapas, a população originária da região Norte permaneceuconcentrada nas margens dos rios, principalmente na região oriental da floresta.Como explicaram os coordenadores da pesquisa, há entre os nortistas uma grandemobilidade, motivada por questões econômicas, que os levam a procurar outrascidades as quais se tenha acesso fluvial ou as grandes capitais da região. Guido Gelli acredita que a noção de propriedade coletiva da Amazônia acabousendo atropelada pela ocupação da área. “Chico Mendes dizia que não erasocialista, que não queria distribuição de terras e nem reforma agrária, massimplesmente o reconhecimento do direito dele, de sua família e de seuscompanheiros, de explorar aquela terra. Como eles, fomos acostumados aexplorar. Os seringueiros saiam coletando a borracha na Amazônia sem sepreocupar quem era o dono daquela terra”. De acordo com o diretor do IBGE, a pecuária extensiva, que tem pouco retornofinanceiro, e posteriormente a exploração de grãos, lucrativa, se impuseramsobre os costumes coletivistas locais. “Hoje o Brasil é um grande exportador degrãos, mas é preciso entender, conhecer um pouco mais para valorar esse nossopotencial da biodiversidade, da borracha, da castanha, das oleaginosas, antesde simplesmente destruir, alagar, ocupar e desmatar. É o banco de dados que vaipermitir esse entendimento”, acrescentou. O mapa retrata a estrutura fundiária da Amazônia, mostrando quea incorporação de terras à área de fronteira agrícola amazônica está sendofeita por um processo de reafirmação da desigualdade na distribuição de terras.”A fronteira agrícola amazônica é caracterizada por áreas de baixas densidadesdemográficas, o que desmistifica a idéia de que é a povoação de formamassificada do Amazonas que gera o desmatamento. Pelo contrário, comoexplicaram os coordenadores do trabalho, a mecanização acaba gerando um vaziodemográfico nas áreas fronteiriças. O estado do Mato Grosso, por exemplo, temuma população rural menor do que o Amazonas”, explica Guido. De acordo com o mapa, o nível de concentração fundiária na região éextremamente alto: 18% dos municípios da fronteira agrícola amazônica estãoacima da média de concentração fundiária nacional, já considerada alta; 48% dosmunicípios desta fronteira apresentam média concentração fundiária e 52%atingem índices que qualificam alta concentração.