Movimentos de mulheres pressionaram governo brasileiro contra esterilizações

21/01/2007 - 14h11

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Religiosos e profissionais de saúde discutem hoje (21) no Fórum Social Mundial alternativas para a esterilização em massa de mulheres. Em muitos países, o planejamento familiar com métodos como preservativos e pílulas anticoncepcionais são proibidos por motivos culturais e também religiosos. No Brasil, desde a década de 70, movimentos feministas revindicam mais atenção àsaúde sexual e reprodutiva das mulheres. Na época, diversas organizações denunciarama prática excessiva de laqueaduras.As mobilizações levaram o Ministério da Saúde a criar, em 1984, o Programa de Assistência Integral à Saúde daMulher (PAISM), que já previa ações de planejamento familiar.Em maio de 2004, foi lançada a PolíticaNacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. O documento prevê açõesespecíficas de atendimento às mulheres negras e trabalhadoras rurais, distribuição gratuita de preservativos e pílulas.No ano passado, o Ministério da Saúde iniciou a distribuição de uma cartilha sobre direitossexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais para apoiaras ações educativas em unidades de saúde e organizações comunitárias.Pesquisa realizada e divulgada pela Universidade de Brasília mostra, no entanto, que as esterilizações continuam sendo um problema grave no país. O Brasil teria o maior índice de laqueaduras domundo, com 40% das mulheres em idade reprodutiva esterilizadas. NosEstados Unidos, esse índice é de 20% e na França, de 6%.De acordo com o médico-ginecologista Antônio Carlos Rodrigues da Cunha, autor de tese de doutorado em Bioética pela UnB, "baixar essesíndices depende principalmente de investimentos na oferta contínua pela redepública de métodos anticoncepcionais e orientações incisivas dosserviços de planejamento familiar".Cunha estudou o tema durante oito anos (de 1996 a 2005). Entrevistou cerca de 100 mulheres que passaram por esterilização nesse período. Quase 50% se submeteram à esterilização na faixa de 20 a 25 anos e 35% entre 26 e 30 anos, auge da fertilidade, incentivadas por parceiros e médico. A maior parte das entrevistadas (98) acabou se arrependendo da cirurgia e hoje busca formas de revertê-la.