Solo compactado pode ter causado desmoronamento em obra do metrô, diz especialista

15/01/2007 - 20h27

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O desmoronamento nas obras da Estação Pinheiros do metrô em SãoPaulo poderia ter sido evitado, se o cuidado com o manejo do solotivesse sido intensificado. A afirmação foi feita hoje (15) peloprofessor de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, especialista em estrutura de construções. Ele informou que apesar da complexidade das obras em solos úmidos, como o dasmargens do Rio Pinheiros, o solo certamente deve ter dado sinais de quecederia. “É como num câncer em que os sintomas aparecem antes”, comparou. O professor salientou, porém, que para avaliar sehouve negligência das construtoras é preciso saber de que maneira foifeita a verificação do solo. Conforme Berberian, o procedimento em solosnormais deve ocorrer a cada 15 metros de túneis. “Para áreas de solode várzea e delicados, como as proximidades do Rio Pinheiros, averificação precisa ser feita em intervalos ainda menores, mas esselimite depende de cada caso”, disse. A existência de trincas nos túneis da linha 4, segundo o especialista, deve tersido um indício de que algo estava para ocorrer. No entanto, ressaltou, nesse caso a velocidade das fissuras deve ser maior que 60milésimos de milímetros por dia. O professor apontou duasexplicações prováveis para o desmoronamento. Pela primeira hipótese, ovolume de chuvas que caiu na capital paulista saturou o solo mole daregião: “Alémde quebrar o cimento natural do solo, a água preenche os poros entre aspartículas e torna o solo mais pesado”. O solo compactado, acrescentou, deve ter aumentado a pressãosobre o concreto que fazia a contenção das paredes da cratera de 40metros de largura e 38 metros de profundidade, usada para a passagem deoperários e máquinas. Além da saturação do solo, a circulação deágua pode, de acordo com Berberian, ter provocado outro problema: aformação de rios subterrâneos que contribuíram para fragilizar aindamais o subsolo das imediações da obra. “Nesses casos, a água carregamaterial e os poros, aos poucos, viram crateras”, informou. Emsituações extremas, explicou, formam-se cavernas que, em algum momento,não suportam o peso das construções e desmoronam. O problema poderia ser detectado, acrescentou, se estivesse saindo águasuja das rachaduras nos túneis da linha 4: “Esse é um sinal de quepartículas do solo estavam sendo carregadas”. Para Berberian, apesar dacomplexidade da obra, a linha 4 do metrônão deveria passar por outro terreno. “A construção pode ser executada na área, desde que com mais cuidado. A maior prova disso é que conseguiram abrir um buraco de40 metros de diâmetro no local", completou.