Sensação é de insegurança nas proximidades da cratera do metrô

15/01/2007 - 16h12

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O medo e a insegurança são os sentimentos predominantes daspessoas que tiveram que deixar às pressas as casas onde moram, localizadas nasproximidades do desabamento do canteiro de obras da linha amarela do Metrô, nobairro de Pinheiros, em São Paulo. Há quatro meses de repouso para se recuperar de um acidentede motocicleta, a estudante Cláudia Regina Alvarenga Mikail estava em seuapartamento quando ouviu uma explosão. Acostumada às explosões nas obras deconstrução da linha amarela do Metrô, a estudante, no entanto, estranhou aintensidade do barulho e a interrupção da energia elétrica. Assustada, Cláudia, com algum esforço, foi até a janela eavistou pessoas correndo e gritando, ônibus retornando na rua, bombeiros epoliciais chegando. Ao mesmo tempo, seu pai a chamava para descer do prédio,alertando que era perigoso ficar no apartamento. “Eu desci com a roupa que euestava, só peguei minhas muletas e a cadeira de rodas”. A residência da estudante, assim como outras 54, estãointerditadas. A presença nas moradias só foi permitida para se pegar algunsobjetos ou documentos. “Só vim para cá porque tenho que ir ao médico e por issotenho que pegar receitas médicas e roupas”, disse a estudante.Cláudia afirmou que sempre se sentiu insegura com as obras,principalmente quando ouvia alguma explosão. Agora, a moradora teme a voltapara o apartamento. “Eu moro aqui há 30 anos e desde que começaram essasperfurações, eu nunca me senti segura. Agora tive a certeza de que o que euestava pensando tinha sentido”. Ela disse que não tem vontade de continuar morando no local,mas não tem para onde ir e, caso haja possibilidade de pagamento deindenização, mudaria para uma rua mais segura. “Aqui, há muito tempo que nãovejo segurança nenhuma”.A aposentada Terezinha Chaves, que reside no mesmo prédio há28 anos, e hoje mora com um filho e uma neta adulta, estava sozinha em casa nomomento do acidente. Ela afirmou que nunca tinha ouvido um estrondo tão alto.“Estão acontecendo detonações constantemente, mas quando deu essa eu pensei queeles haviam exagerado. Mas não era uma detonação provocada, já era odesabamento”, disse. Desde o desabamento, contou a aposentada, todos saíram doprédio de três andares e não puderam mais entrar. “Aí já começaram a darassistência para nós. Subimos só para pegar as coisas e já fomos para o hotel”.Apesar de todo o atendimento prestado pelos responsáveispela obra, a aposentada disse que sua vida está completamente alterada. “Nóssaímos de nossa casa. Minha neta e eu não estamos dormindo, comendo direito. Asensação é horrível. É a sensação de perder uma coisa pela qual você lutou avida inteira para ter”. Participante de grupos da Terceira Idade, Terezinha não estáfazendo nenhuma de suas atividades. “Espero que eles resolvam esse problema eeu possa voltar para casa. Não sei como vou me sentir dentro do meuapartamento, estou com medo, mas quero voltar. Se o estado oferecesse umaindenização eu sairia daqui”.Residentes em uma casa a pelo menos 50 metros do local ondehouve o desabamento, as amigas Micheline Vilar e Carolina Gragnoli não voltavampara o local desde sexta-feira. Micheline estava na casa de uma amiga quandosoube do desabamento por Carolina, que estava sozinha em casa com seus doiscães. “Nós viemos pegar algumas roupas porque estamos sem nada desdesexta-feira”, disse Micheline, pouco depois de chegar ao local.Segundo Carolina, no momento em que percebeu o que estavaacontecendo a primeira coisa em que pensou foi em salvar os cachorros, queagora estão em uma loja de animais, que também funciona como hotel para cães.“Depois voltei para ver se podia pegar documento, roupa”. Carolina contou que quem deu o alerta para os moradoressaírem das casas foram os funcionários do estacionamento que fica bem ao ladodo canteiro de obras e que foi o primeiro imóvel a ser atingido. A casa dasduas amigas é a terceira depois do estacionamento.Carolina disse que em setembro e novembro entrou em contatocom o Metrô para comunicar que havia rachaduras e vazamentos em sua casa. “Eudisse a eles que a casa é uma construção de sete anos e não poderia ter aquelesdanos. Eles me disseram que esses danos não eram ocasionados pelas explosões dometrô”. A expectativa de Carolina, que é proprietária da casa, é a de que oestado cubra seus prejuízos. “Quero uma casa igual à minha em outro lugar. Hávários terrenos aqui em Pinheiros e eu não quero mudar de bairro. Quero queeles comprem um terreno, peguem a planta da minha casa e façam uma igual. Éisso que eu quero. Morar lá eu não posso mais”, afirmou Carolina. A dona de casa Adelaide Videira, de 67 anos, que também estádormindo em um hotel, não notou nenhuma rachadura em sua casa na rua GilbertoSabino, mas sente os tremores cada vez que ouve uma explosão ou um caminhãopassando pela rua. “Agora que vim ver, percebi que o portão abaixou e o pisocedeu um pouco, além de aparecer uma rachadura no muro do vizinho”. Elaacredita que poderá voltar para sua casa, onde vive há 18 anos. Adelaide conta que no momento do desabamento não percebeuque poderia ser algo grave acontecendo. “Já estava acostumada com as explosõese achei que aquele era só mais uma”. Segundo os moradores, os responsáveis pela construção dalinha amarela do metrô estão prestando todo o atendimento e fazendo reuniõesdiárias para explicar toda a situação. Nenhum deles se queixou do atendimento,que inclui além de um local para dormir, táxis à disposição, fornecimento deremédios àqueles que precisarem, psicólogos e assistentes sociais. Nenhum delescriticou o atendimento prestado até agora.