Marina Domingos
Repórter da Rádio Nacional
Brasília - Picadeiro,corda bamba, palhaços e piruetas. A vida do circo, cheio de brilhos e luzes,parece estar distante de outra realidade, a do morador de rua. Essas duasrealidades se cruzam no trabalho desenvolvido pelo Movimento Rua do Circo, umaassociação cultural sem fins lucrativos, que leva cidadania a um grupo de 20pessoas em Brasília.DaianeBárbara dos Santos participa do movimento. Ela saiu de casa há mais de dezanos, para viver com os meninos e meninas de rua. "Eu era pequenininha,fui adotada por uma mulher, algumas vezes dormia na rua, outras em casa. Depoisconheci o pessoal, comecei a gostar de todo mundo e fiquei", conta.Ahistória de vida de Santos é parecida com a de milhares de crianças e adultosdas grandes cidades brasileiras. Realidade dura e difícil de pessoas que, alémdas precárias condições materiais, sofrem com o desrespeito a seus direitos e opreconceito da sociedade.Parase ter uma idéia da exclusão enfrentada pelos moradores de rua é só lembrar quenão existe censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) queindique qual é o número de pessoas nessa situação. Se o morador de rua quiserfreqüentar uma escola, marcar uma consulta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ouparticipar de algum programa de ajuda do governo, certamente irá encontrardificuldades. Acoordenadora do Movimento Rua do Circo, Joana Hening, explica que um dosprincipais trabalhos com o grupo é fazer com que eles se enxerguem comocidadãos e possam cobrar seus direitos. "Morador de rua é a exclusão daexclusão. O governo federal não sabe quantos existem e nem onde eles estão.Isso mexe muito com eles, o fato de eles não serem ninguém. Eles não são cidadãos...Muitos tiram a identidade com 30 anos de idade", afirma a coordenadora.Segundo ela, o trabalho com moradores de rua começoucom a idéia de ensinar técnicas de circo como forma de aproximar as pessoas eexplicar conceitos de cidadania, como direitos e deveres que cada cidadão tem."Todos os instrutores do projeto são artistas, mas esse não é o objetivocentral do projeto”, explica Hening. “O sentido é trabalhar a cidadania, fazercom que eles tenham a possibilidade de construir uma vida melhor. , do quejeito que eles desejam – e não impor isso, não existe uma cartilha de ser umacriança feliz."