Marina Domingos
Repórter da Rádio Nacional
Brasília - Recentemente, o Movimento Rua do Circo, da capital federal,venceu o Prêmio Carequinha de estímulo ao circo, realizado pela FundaçãoNacional da Arte (Funarte), ligada ao Ministério da Cultura. Mas o grupo aindanão conta com patrocínio fixo para as atividades. Mesmo com todas asdificuldades de reunir o grupo e trabalhar na busca de um futuro melhor para osmoradores de rua, os artistas do movimento continuam tentando se mobilizar paraconquistar novos alunos e manter o projeto de pé. Em 2007, eles pretendemaumentar o número de aulas e buscar novos financiamentos.Para desenvolver o trabalho, o Movimento Rua do Circo contacom uma equipe de oito profissionais dentre artistas, organizadores epsicólogos. Uma vez por semana, o grupo se reúne para fazer exercícios deaquecimento, alongamento e começar as aulas debaixo da lona no Clube da Imprensa,onde uma área está em reforma para essa finalidade. Os moradores de rua almoçamno projeto e depois partem para uma conversa em grupo, quando fazem uma granderoda e discutem as principais novidades e anseios de todos.A psicóloga Júlia Campos trabalha com o movimento desde 2005e destaca que a roda é utilizada como momento de reflexão para que osparticipantes possam contar histórias que se passam com eles, muitas vezesenvolvendo casos de violência, uso de drogas e preconceito. De acordo ela, muitossabem dos perigos que a situação de rua envolve, fugindo de gangues rivais e degrupos racistas, mas outros ainda não entendem completamente a realidade pelaqual passam. "É uma situação complicada, porque ela é uma situação deexclusão, mas ao mesmo tempo ela não é uma exclusão consciente ativa, que aspessoas percebem. É uma situação que acontece e sobre a qual não se fala",analisa Campos.Depois de cinco anos no movimento, a moradora de ruaDaiane Bárbara dos Santos já fez aulas de malabarismo, acrobacias e trapézio, ede preparação como palhaço. Ela está grávida há oito meses e pensa em deixar asruas para construir uma família com o filho que está para chegar. Afirma que oMovimento Rua do Circo mudou sua vida. "Antigamente eu só sabia falar, nãosabia ouvir não. Muitas vezes, lá na roda a gente tem que aprender a falar comas pessoas, a gente tem nosso tempo de falar e nosso tempo de ouvir e aspessoas têm a dizer sobre aquilo que a gente falou. Lá está sendo, e acho quevai continuar sendo, um espaço para a pessoa crescer se ela quiser. Eu crescimuito", completa.