Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A infecção de uma jovem de 15 anos pelo HIV, noMorro do Chá, em Santa Cruz, zona oeste da cidade, chamou a atenção de AndréaCorrea Marchel para a necessidade tornar a aids, outras doenças e o risco degravidez na adolescência conhecidos de sua comunidade. Com um grupo de pessoas,ela passou a integrar a Rede de Comunidades Saudáveis, lutando pelaconscientização da sua vizinhança. A rede se compõe de 121 organizações comunitárias eassociações de moradores de áreas carentes em nove municípios. A proposta élevar informações sobre doenças, distribuir preservativos e lutar pela atençãodos governantes na área de saúde e saneamento básico em suas comunidades.“Eu dou palestras e falo sobre a aids. E a gente sempre vêdepoimentos de pessoas que vêm dizer: ‘olha, eu tinha essa doença, mas só agoraeu sei o que é isso’. A gente manda ir para o posto de saúde. Em uma dascomunidades que eu freqüento, por exemplo, o índice de gravidez caiu muito porcausa desse trabalho”, conta Marchel. A Rede de Comunidades Saudáveis partiu de idéia de um grupode profissionais de saúde. A equipe de médicos, psicólogos e enfermeirosdefendia a importância de a própria população zelar pela saúde comunitária. O trabalho foi iniciado em uma pequena favela do bairro deSão Conrado, zona sul da cidade, em 1993. A psicóloga Kátia Edmundo participoudo nascimento do projeto e hoje atua como uma das coordenadoras da rede, queagora conta com o apoio de prefeituras.“As pessoas cansam de esperar”, diz. “E grande parte dasconquistas sociais foram a partir desses movimentos de resistência. Nenhumpoder público chegou dizendo que ia colocar água ou luz, em determinado lugar.Todas essas conquistas foram conseguidas pelo movimento social, que pressiona ogoverno na medida de ter políticas mais eqüitativas.”Carlos Alberto Silva leva o trabalho da rede ao bairro deVilar Santo Aleixo, em Magé, e diz que não dá para esperar quando, diante dosolhos de todos, uma doença como a aids prolifera entre os moradores da área.“Quando acontece isso, alguém tem que tomar as rédeas. Vamosdoar tempos de nossas vidas e zelar por alguém que estará zelando pela gente nofuturo. Ainda falta muita coisa para o poder público chegar ao objetivo que nósqueremos, de ter aquela parceria, de podermos sentar diante deles eassessorá-lo. Se fosse assim, as coisas funcionariam”, acredita Silva.A Rede de Comunidades Saudáveis é um projetocapitaneado pela Organização Não-Governamental (ONG) Centro de Promoção daSaúde, entidade composta pelo mesmo grupo de profissionais que começou otrabalho em 1993, em São Conrado. A entidade, que tem o apoio do Ministério daSaúde e de organismos internacionais, oferece apoio técnico e ajuda naarticulação das comunidades carentes com o poder público e outras comunidades.