Cooperativa de panificação junta irmãs separadas pelo tráfico

13/01/2007 - 9h22

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As mãos que hoje se juntam para fabricar pães são as mesmasque, durante anos, estiveram divididas pela ditadura do tráfico de drogas nasfavelas da Grande Tijuca, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. RosângelaRebelo de Souza tem 49 anos e é moradora do morro da Casa Branca. Sua irmã,Rosa Maria Rebelo, de 42 anos, é moradora da comunidade vizinha do Borel,dominada por uma facção criminosa rival daquela que ocupa a Casa Branca.Mesmo sem ter qualquer relação com o narcotráfico, Rosângeladiz que acaba sofrendo as conseqüências. Por conta do domínio do crime e pormedo de sofrer violência por parte dos traficantes da área, as duas irmãssempre evitaram se visitarem em suas casas, localizadas em favelas diferentes.“A gente não tem nada a ver com isso. Somos trabalhadoras ehonestas. Mas, infelizmente, as comunidades estão assim. Então, a gente ficamais reservada, procurando não se visitar muito. A gente se encontra mais nasruas”, conta Rosangela.No final de 2006, as duas tiveram uma boa surpresa. Elasintegram, há quatro anos, uma cooperativa de produção de pães, formada por seismulheres de três favelas da região: o chamado Grupo das Arteiras. O grupoproduz alimentos e reinveste o dinheiro no próprio negócio, em um esquema deeconomia solidária, ou seja, um empreendimento em que elas se organizam erealizam as tarefas de forma solidária.O resultado do esforço, de quatro anos de trabalho comculinária, foi o aluguel do primeiro espaço para que as Arteiras pudessem sereunir e fazer funcionar a cooperativa. Isso em uma área considerada “neutra”,ou seja, fora das favelas e sem a interferência do narcotráfico.“Aqui é um lugar onde vamos poder nos confraternizar eestarmos sempre juntas. Porque ela [Rosângela] até vai à minha casa, masse eles [traficantes] souberem, pode ter problemas. Quando a gente nãotinha um espaço, a gente fazia os pães lá em casa. E, no momento em que euprecisava muito da ajuda dela, eu tinha que dar uma volta grande para evitar ostraficantes e deixá-la em casa”, afirma a irmã Rosa.A cooperativa de produção de pães das Arteiras dos Morros doBorel, da Casa Branca e da Chácara do Céu trouxe ainda outra mudança na vida deRosa. Casada com um homem que tinha problemas com alcoolismo, a mãe de seisfilhas sentia-se inútil, sem capacidade para produzir. Hoje, ela capacitaoutras mulheres na atividade de panificação e tem outros sonhos. “Quando eu vim para o grupo, eu estava com uma fortedepressão. Aí eu passei a conhecer pessoas, voltei a estudar e fiz várioscursos. Agora, eu tenho vontade de fazer uma faculdade de Nutrição e tenho féde que vou conseguir”, diz.