Recordes da bolsa não favorecem desenvolvimento, critica economista

12/01/2007 - 17h12

Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Câmbio baixo, juro alto e ajuste fiscal é a combinação de fatores que estimularam os recordes do mercado financeiro em 2006. Mas são os mesmos motivos para o baixo crescimento econômico do país, na avaliação de Marcos Antonio Cintra, professor de economia da Universidade de Campinas (Unicamp).“A mesma lógica que promove a exuberância dos mercados, restringe o desenvolvimento do país”, critica. “O interesse desses segmentos não necessariamente significa o interesse da nação, porque a nação não cabe no mercado”.O economista cita a taxa básica de juros estipulada pelo Banco Central em 13,25% ao ano, como um dos principais fatores que atraem o investidor estrangeiro. Mas a taxa elevada é considerada um dos principais problemas para o crescimento da economia, já que o investidor prefere aplicar dinheiro na bolsa do que em empresas.O mesmo ocorre no câmbio, afirma Cintra. Atualmente a cotação de cerca de R$ 2 para cada dólar que tem, segundo ele, beneficiado a importação de produtos. Quanto mais alta a cotação do real frente ao dólar, mais barato ficam os produtos importados para o comprador brasileiro. A mesma cotação é apontada pelos aplicadores financeiros como um dos motivos para a alta da Bovespa.Cintra afirma que o controle do câmbio, que poderia melhorar a cotação do real, é considerado nocivo pelos investidores financeiros. “Na Tailândia, o governo anunciou a intenção de controlar a entrada de dólares no país. No mesmo dia, a Bolsa de Bangcok caiu 30%. À noite, o governo teve de voltar atrás”. O economista considera esse tipo de pressão dos investidores financeiros uma “ditadura do mercado”. “Ao mesmo tempo que o mercado financeiro gera riqueza dentro dele, restringe políticas econômicas que favorecem o desenvolvimento”. Cintra considera que o crescimento do mercado financeiro não favorece o desenvolvimento, necessariamente. “Às vezes o empresário coloca milhões no bolso e vai a Paris, não coloca um real em sua empresa”.Cintra credita os números recordes da Bovespa ao aumento de participação do investidor estrangeiro.Mais de 35% dos investimentos feitos na Bolsa de São Paulo vieram doexterior. Os estrangeiros também foram responsáveis por mais de 60% dascompras de ações novas lançadas no mercado financeiro.Umamedida provisória convertida em lei isenta desde o começo do ano oinvestidor estrangeiro de pagar o Imposto de Renda ao comprar títulospúblicos na Bolsa de Valores. Também em 2006, os investidoresestrangeiros foram isentos da Contribuição Provisória sobreMovimentação Financeira (CPMF).