Empregados de empresa de segurança são suspeitos de matar índia, afirma procurador

10/01/2007 - 16h33

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Para o procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Dourados (MS) Charles Pessoa, existe“forte suspeita” de que o assassinato da índia guarani-kaiowá KurutêLopes, 70 anos, na noite de segunda-feira (8), tenha sido cometido porfuncionários de uma empresa de segurança que trabalha para osproprietários da Fazenda Madama, onde ocorreu o crime.“Éforte a suspeita. Na noite do crime, havia cinco funcionários daempresa no local, que cuida da segurança da fazenda. É o terceiro casode assassinato envolvendo essa empresa com conflitos indígenas", diz ele. "Nosdois primeiros, foi comprovada a participação dos seguranças. Épossível, então, que tenham participado do crime, pois tomavam conta dasede da fazenda nesse dia.”Os seguranças da empresa são acusados também das mortes dos índios Dorvalino Rocha, ocorrida em Nhanderu Marangatu, em dezembro de 2005, e de Dorival Benitez, em junho de 2006.APolícia Federal de Ponta Porã (MS) intimou três empregados dessa empresa aprestar depoimento na próxima sexta-feira (12). Odelegado Alexandre Fresneda de Almeida foi designado para acompanhar o caso. O inquérito foi aberto paraapurar a morte e as lesões corporais nos indígenas que foram expulsosda fazenda “por jagunços e seguranças”. Não havia mandado judicial dereintegração de posse.Noúltimo sábado (6), 50 famílias guarani-kaiowá invadiram a fazenda natentativa de retomar a área, que consideram de ocupação tradicional, chamando-a de Kurusu Amba. Dois dias depois, pistoleiros atacaram a tiros o grupo. Foiquando ocorreu a morte de Kurutê e o ferimento do índio Valdeci Gimenez,com três tiros nas pernas. Na ocasião também foram presos quatro indígenas pela PolíciaCivil, sob a alegação de roubo de uma carreta. Segundoo coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi),Egon Heck, há um clima de tensão e indignação por parte dosíndios desde a “brutalidade” da última segunda-feira. “Eles temem pelaviolência que os fazendeiros e seus braços armados impõem à região. Asmilícias têm agido contra os índios, que estão buscando um direito pelaposse de sua terra tradicional.”Para Heck, três questões são fundamentais hoje para o povo indígena daregião: a apuração rigorosa e a punição dos responsáveis peloassassinato; que seja garantido aos índios o direito de sepultaremKurutê em Kurusu Amba, onde ocorreu o assassinato; que o governocumpra sua “obrigação constitucional” e busque agilizar oprocesso de reconhecimento e demarcação da terraindígena. “Só mediante essas ações começaremos a restabelecer a justiçae a tranqüilidade nessa área”, diz Heck.