Entrevista 1 - País está disposto a intermediar futura transição de poder em Cuba, garante embaixador brasileiro

08/01/2007 - 5h50

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Brasil e Estados Unidos vivem um momento de amadurecimentoda relação bilateral e têm visões comuns em muitas questões da agendainternacional, na opinião do futuro embaixador brasileiro em Washington,Antonio de Aguiar Patriota. Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silvae aprovado pelo plenário do Senado, o subsecretário-geral de Assuntos Políticosdo Ministério das Relações Exteriores deve assumir a embaixada brasileira nosEstados Unidos nas próximas semanas.Nesta entrevista à Agência Brasil, a primeira depoisda aprovação de seu nome para ocupar o cargo, o diplomata fala longamente sobreo processo de reforma nas Nações Unidas e demonstra otimismo com relação àampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Patriota acredita que asconseqüências da invasão do Iraque e a “inoperância” das Nações Unidas naguerra entre Líbano e Israel vêm mobilizando forças nesta direção. Para ele, alegitimidade das decisões adotadas pelo Conselho de Segurança depende darepresentação de países em desenvolvimento entre os membros permanentes.O novo embaixador do Brasil nos Estados Unidos tambémdefende a participação crescente do país em processos de pacificação, como amissão de paz no Haiti, e revela: o Brasil está disposto a intermediar oprocesso de transição de poder em Cuba, junto aos Estados Unidos, quandonecessário.Neste primeiro trecho da entrevista, Antonio de AguiarPatriota comenta a relação Brasil-Estados Unidos, prevê novidades em termos deparcerias na área de biocombustíveis e diz que é cedo para medir asconseqüências da mudança de perfil do Congresso americano, agora liderado pelosdemocratas.Agência Brasil: O senhor assumirá a embaixadabrasileira nos Estados Unidos nas próximas semanas. A mudança de perfil doCongresso americano, com maioria democrata, muda a relação política dos EstadosUnidos com o mundo e, particularmente, com o Brasil?Antonio de Aguiar Patriota: Acho queé muito cedo para dizer. A relação entre Brasil e Estados Unidos sobre os temasda agenda internacional é muito boa, muito fluída. Isso é reflexo do bomrelacionamento que os dois presidentes, Lula e Bush, estabeleceram, daexcelente relação que o ministro [de Relações Exteriores] Celso Amorim mantémcom a secretária de Estado Condolezza Rice e com sua homóloga na parte comercial,Susan Schwab [representante de Comércio dos Estados Unidos]. Acho que vivemoshoje um momento de amadurecimento da relação bilateral para o tratamento dequestões da agenda internacional como raras vezes se viu na relaçãoBrasil-Estados Unidos. Há pontos de convergência muitos importantes aqui nasnossas imediações, como é a situação no Haiti, em que há um reconhecimentojusto, por parte do governo norte-americano, do papel construtivo da liderançabrasileira no esforço de estabilização de uma nação irmã.ABr: A relação comercial pode mudar com a maioriademocrata no Congresso?Patriota: Talvez na agenda comercial hajaalguma influência. Como sabemos, os democratas já comentaram que achariamnecessário introduzir cláusulas trabalhistas e ambientais nos acordosbilaterais que foram assinados entre o governo norte-americano e alguns paísesda região. Isso não nos afetará diretamente, mas será um tema a ser acompanhadonos próximos dias e meses.ABr: O Brasil está pronto para intermediar uma eventualtransição de poder em Cuba, se for necessário, se for iminente umainterferência direta dos Estados Unidos? Ou o Brasil prefere manter distânciade assuntos bilaterais?Patriota: Acho que não há como manterdistância em relação a temas importantes da agenda internacional, ainda maisaqueles aqui da nossa redondeza. Cuba é um país próximo geograficamente e umpaís importante na região, com o qual nós temos relações bastante intensas hojeem dia. Considero que, possivelmente, haja um papel, sim, a ser desempenhadopelo Brasil na busca de uma transição para a democracia que seja a maistranqüila e sem turbulências possível e tenho certeza de que o governonorte-americano terá muito interesse em ouvir as nossas ponderações e análises.É um tema que possivelmente, sim, estará entrando na nossa agenda quando asituação assim determinar.ABr: Existe algum tema premente na relação bilateralBrasil-Estados Unidos, algo que esteja na ordem do dia?Patriota: Umtema que desperta muito interesse dos Estados Unidos, na administração Bush,pelo qual nós também temos grande interesse, é a cooperação na área dosbiocombustíveis. De modo que se pode aguardar alguma novidade nessa área.