Renato Brandão
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Cerca de 50 índios das etnias Guarani-Kayowá, de Mato Grosso do Sul, e Terena, de São Paulo, participaram na manhã de hoje (29) de um evento na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. O objetivo é chamar atenção da população e pressionar as autoridades para os processos de demarcação de terras indígenas da região de Dourados (MS), em tramitação na Justiça Federal.Diante de uma platéia composta principalmente por universitários, os manifestantes fizeram um balanço da série de atos públicos, que teve início anteontem. Após os discursos, fizeram um ritual de dança e canto.Avá Rudju (ou Anastácio Peralta), da Comissão de Direitos Guarani-Kayowá, avaliou positivamente as reuniões feitas ontem com procuradores e juízes na sede do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região (centro de São Paulo) – onde são conduzidos os processos relativos às demarcações em Mato Grosso do Sul.Segundo o líder indígena, embora não haja garantias claras para resolver a questão, houve “uma garantia de solidariedade” da sociedade e da Justiça paulistas para que haja maior rapidez no processo de regularização. “Temos de mudar a mentalidade de que nós não temos direito à terra”.Para Rudju, há mais terras para os pecuaristas da região do que para o povo Guarani-Kayowá. Os fazendeiros também destruíram a mata e drenaram recursos hídricos das áreas indígenas, de acordo com Pa’i Kuará (ou Arnaldo Sanabri), também representante da etnia. Segundo ele, isso impede que os índios desenvolvam atividades essenciais como agricultura, pesca e caça. “Se a gente pular para outro lugar, o fazendeiro acha ruim, porque nós estamos pescando do lado deles”.Kuará também afirmou que a falta de terras tem causado fome, desnutrição e morte entre os Guarani-Kayowá. Segundo ele, aproximadamente 180 famílias vivem em condições subumanas em Maracaju (MS), espalhadas pelas estradas do município ou cercadas por lavouras e arame farpado, de acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).Kuará disse também que os Guarani-Kayowá aguardam desde 1972 uma decisão da Justiça brasileira sobre a regularização de terras. Ele teme que a pressão dos índios intensifique a violência dos fazendeiros. “E agora que nós estamos na tevê, pior ainda. Vamos ser mais perseguidos”.