Ministra defende criação de delegacias contra crimes raciais no país

23/11/2006 - 10h06

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na semana em que se celebra o Dia da Consciência Negra (20de novembro), a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção daIgualdade Racial, Matilde Ribeiro, defendeu a criação de delegacias contracrimes raciais no país para combater o preconceito. Para a ministra, “seria uminvestimento importante” do governo. Ela conversou com a Agência Brasillogo após conceder entrevista coletiva, na manhã de hoje (23), no programa BomDia Ministro, transmitido pela Radiobrás.De acordo com a ministra, quando se vê um homem agredido umamulher, se espera que ele seja denunciado) na Delegacia de Defesa da Mulher. “Omesmo não acontece numa agressão quando o elemento é racial. Se alguém vê umapessoa branca xingando outra de ‘negro safado’, a pessoa vai dizer: ‘eu nãotenho nada com isso’. Por isso, creio que é importante, sim, ter delegaciaspara crimes raciais ou seções especiais nas delegacias comuns para esses casos.Em uma ação racista, o agressor tem que ser punido”.A ministra lembrou que a Constituição considera o racismocrime imprescritível e inafiançável, mas “atos de racismo acontecem sob nossosos olhos todos os dias”, e nem sempre têm como conseqüência uma ação policial.“Isso acontece porque nós brasileiros estamos imbuídos de que atos de racismosão bobagem, ou atos pontuais. O que precisamos é ter a conscientização de queracismo é crime e precisa ser levado às últimas conseqüências”.Segundo Matilde Ribeiro, uma queixa de racismo em umadelegacia, “acaba virando qualquer coisa, menos racismo”. Para mudar isso, elaacredita que é necessário das aos agentes de segurança pública formação para compreenderemo texto constitucional, assim como foi feito na política de combate à violênciacontra mulheres, com a implementação das Delegacias de Defesa da Mulher. “Nocomeço ninguém admitia que a Delegacia da Mulher fosse necessária. Hoje, elasfazem parte do cotidiano”, destaca.Sobre a criação de futuras delegacias de crimes raciais, aministra destacou que “não há uma proposta forte sobre isso, mas existe”. Elacitou a história de uma delegacia desse tipo, criada em são Paulo no governoMário Covas, que funcionou por apenas um ano. “Foi fechada sob a alegação deque não havia procura. Avalio que não haver procura não é porque não temracismo. Não haver procura é porque não há, entre nós brasileiros, ainda, umapostura de ação contra o racismo”.