Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As políticas públicas e açõesafirmativas para os negros, como as cotas em universidades, são açõesque pretendem modificar o perfil da elite brasileira, e não realizaruma transformação social radical. A opinião é do professor adjunto daUniversidade Federal de São Carlos (SP) e presidente da AssociaçãoBrasileira de Pesquisadores Negros, Valter Roberto Silvério.
Hoje(20), data em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, oprofessor Silvérior proferiu a palestra Políticas Públicas e AçõesAfirmativas para os servidores do Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT), em Brasília. De acordo com Silvério, as políticas afirmativassão a única forma de mudar o perfil das posições de “decisão” no país.
“Nósestamos comemorando mais de 100 anos de abolição da escravatura e aindareproduzimos a idéia de que a situação do negro no Brasil é umasituação que tem a ver com o seu passado escravocrata”, disse.
Oprofessor citou exemplos de algumas sociedades multirraciais, como aindiana e a norte-americana, que têm perfil social parecido com o doBrasil, mas conseguiram, por meio de políticas de ações afirmativas,mudar o perfil de suas elites.
“Bastaver, por exemplo, sociedades como a hindu, na Índia, em que temospessoas de diferentes castas nos seus quadros dirigentes. Da sociedadeamericana, de que a gente sempre imita tanta coisa, não queremos imitaressa política que foi uma política que revolucionou os cargos dosistema decisório norte-americano”.
Para oprofessor Silvério, o Dia Nacional da Consciência Negra representa umaluta de mais de 400 anos da população negra no Brasil. “Zumbi talvezseja o grande representante de uma possibilidade que nós perdemos, há400 anos atrás, que era construir uma república multicultural, já queos quilombos eram locais a que todos aqueles que não eram aceitos pelasociedade se dirigiam”, lembrou.
“Trazerà memória o 20 de novembro, a partir da década de 70, pelo movimentonegro contemporâneo, foi um pouco essa idéia de que é possível vocêconstruir uma república em que a sua pertença étnico-racial não seja umempecilho para que você se desenvolva enquanto ser humano, enquantosujeito, enquanto cidadão”.