Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um “voto grande de confiança dos eleitores” e terá de enfrentar pelo menos três desafios no próximo mandato. A avaliação foi feita hoje (29) pelo historiador e cientista político Átila Roque, membro do colegiado de gestão do Instituto Nacional de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em entrevista à Agência Brasil.O primeiro desafio, na opinião de Roque, é o aprofundamento das políticas de combate à pobreza e às desigualdades. “Embora tenha tido progresso considerável ao longo dos últimos anos, elas permanecem em patamares não aceitáveis para um país com as riquezas do Brasil”, destacou o cientista político. Ele disse que é preciso investir em políticas, não apenas de respostas imediatas, mas de “sustentação de longo prazo” nas áreas de educação, infra-estrutura e de distribuição de renda.O segundo desafio é promover as reformas necessárias para evitar casos de corrupção. “Embora isso não tenha sido definidor do voto do eleitor, não significa que ele não esteja prestando atenção na questão ética”, afirmou Roque. Para ele, a “lua-de-mel acaba com as eleições”. “O Lula tem obrigação de prestar mais atenção do que nunca ao componente ético do governo”, acrescentou.De acordo com Roque, o terceiro desafio se refere mais aos movimentos sociais, que devem manter um relacionamento “autônomo” com o governo. Para ele, a reeleição de Lula revela uma profunda relação do candidato com as entidades da sociedade civil. “Os movimentos devem ser capazes de se constituir como uma força crítica, que vai ajudar o governo no enfrentamento dos outros dois desafios”. Ele acredita que Lula foi “inovador” no primeiro mandato, em ampliar os espaços de interlocução com a sociedade.Na opinião do cientista político, o eleitor é “muito racional” nas suas escolhas. Roque discorda dos que afirmam que o eleitor vota apenas direcionado aos seus interesses imediatos ou manipulado pela mídia. “Acho que o eleitor colocou na balança com clareza aquilo que ele percebeu como progresso. E também a ausência de uma alternativa clara”. Na opinião do diretor do Inesc, não houve um debate concreto de idéias de programas de governo dos candidatos na campanha eleitoral.