Estados Unidos já praticavam torturas antes da lei contra terroristas, diz professor

18/10/2006 - 11h17

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Lei de Comissões Militares de 2006, sancionada pelo presidentenorte-americano, George W. Bush, na realidade, não muda nada. Apenas legitimapráticas adotadas pelos Estados Unidos há diversas décadas.A análise é do professor de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB),Lúcio Castelo Branco. A nova lei americana permite o uso de “métodos rígidos”em interrogatórios de acusados de terrorismo e dá às cortes militares aresponsabilidade de julgar os suspeitos,.Em entrevista ao Programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional,o sociólogo afirmou que os Estados Unidos têm treinado forças militares epoliciais para extraírem informações a qualquer preço, com a finalidade dedefender-se do inimigo interno.“Só que esse inimigo mudou de nome e já não é mais o comunista. Hoje é todae qualquer pessoa que ponha em risco os interesses estratégicosnorte-americanos. O que muda é a conjuntura em que esse ato foi promulgado”,afirmou.Segundo Castelo Branco, trata-se de uma conjuntura em que os Estados Unidosdetêm a hegemonia global e o mundo, “encolhido do ponto de vista do espaço, dotempo e da simultaneidade intercomunicativa”, tornou-se foro interno dosEstados Unidos, “que agem como bem entendem, passando por cima de toda alegislação, regras e convenções internacionais”, afirmou. O professor não acredita que países da Europa tendam a se afastar dosEstados Unidos por conta da nova lei e lembra que foi um militar francês quecriou regras de tortura utilizadas em momentos de guerra. “O coronel RogerTrinquier, cujo grande mérito perverso foi generalizar essas práticas e darsubstância ao que se chamava de ideologia de segurança nacional”.Para Castelo Branco, no entanto, hoje a ideologia de segurança nacionalganhou outro nome: ideologia de segurança hegemônica dos Estados Unidos.