Para associação de pesquisadores, mídia dá "ênfase excessiva" às pesquisas eleitorais

29/09/2006 - 15h48

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O destaque adquirido pelas pesquisas eleitorais realizadas edivulgadas no Brasil nos últimos anos pode revelar não somente as tendências de voto, como também alinha adotada no debate político no país. A avaliação é da presidente daSociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado, Adélia Franceschini.“As pesquisas eleitorais ganharam uma dimensão enorme dentrode um vácuo da discussão política. Pouco se debate conteúdo ou projeto denação. O processo eleitoral é político e social. E deveria ser retratado de umamaneira mais rica”, afirma Franceschini. “Ao dar ênfase excessiva às pesquisas, os própriosjornalistas erram porque deixam de ressaltar o que realmente os candidatos têmde proposta para o país.”O sociólogo Agenor Gasparetto acredita que, nas eleiçõesdeste ano, as pesquisas só perderam lugar nas manchetes para as denúncias decorrupção, mas ainda assim tiveram um lugar de destaque, que precisaria serrepensado pelos meios de comunicação, partidos e políticos. Especialmente comrelação às pesquisas divulgadas após o término da campanha (no presente caso, ontem, quinta-feira).“Durante a campanha, os números ainda podem serquestionados pelos candidatos, que ainda têm a chance de apresentar argumentospara o eleitor não ser levado pelo voto útil”, diz o professor da UniversidadeEstadual de Santa Cruz (BA) e pesquisador do Instituto de Sócio Estatística.“Se eu fosse candidato, exigiria que o Tribunal Superior Eleitoral proibisse adivulgação das pesquisas na sexta, sábado e domingo.”Para Gasparetto, nas eleições presidenciais deste ano,aparentemente, as pesquisas exercerão pouca influência nas intenções de voto.Não teriam ocorrido discrepâncias relevantes entre levantamentos, e os númerospodem corresponder com o resultado das urnas.Já nas disputas regionais, os levantamentos podem, naopinião do sociólogo, ter um impacto significativo. “Na Bahia, por exemplo,foram divulgadas pesquisas esta semana que haviam sido realizadas no início domês. Também vi levantamento scom metodologias questionáveis, que não incluíam nalista de entrevistados regiões e cidades importantes do estado”, conta opesquisador. “Em um quadro regional dedisputa acirrada, as pesquisas podem estar estimulando o voto útil,especialmente nesses últimos três dias, quando os candidatos em desvantagem jánão podem se manifestar”, completa.O TSE permite a divulgação, no dia do pleito, depesquisas feitas até o dia anterior e devidamente registradas no tribunal. As pesquisasde “boca de urna” para os cargos de governador, senador e deputados federais,estaduais ou distritais poderão ser divulgadas assim que for encerrada aeleição na respectiva unidade da federação.Os levantamentos referentes àdisputa para a Presidência da Republica só podem ser anunciadas após aconclusão da eleição em todo o território nacional, respeitando as diferençasde fuso horário.