Seminário debate reintegração familiar de menores abandonados

14/09/2006 - 18h03

Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - O retorno à família e à comunidade de crianças e adolescentes que vivem em abrigos é o tema central de um seminário promovido pela Fundação Projeto Travessia. O evento começou hoje (14) e termina amanhã, com o debate entre especialistas e autoridades sobre propostas para a reintegração desses jovens à sociedade.“O principal objetivo é lançar uma nova proposta na cidade de São Paulo para o ‘desabrigamento’ de crianças e adolescentes que estejam abrigados há um período longo, algo crônico na cidade”, explica Clóvis Tadeu Dias, coordenador do Projeto Minha Casa, Meu Lugar, da Fundação Projeto Travessia.De acordo com Dias, o projeto nasceu após a divulgação, em 2005, de uma pesquisa produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que contou com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e a promoção da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.A intenção do levantamento era mostrar a situação de abrigos para crianças e adolescentes beneficiados com o repasse de R$ 35 da Rede de Serviço de Ação Continuada, do MDS.O Ipea pesquisou 626 abrigos em todo país, que atendem a cerca de 20 mil crianças e adolescentes. Conforme o relatório, a maioria dos jovens é do sexo masculino (58,5%), afrodescendentes (63,6%) e com idade entre sete e 15 anos (61,3%). Mais de um terço dos abrigos (34,1%) encontra-se no estado de São Paulo.Foi apurado também que 78,4% dessas instituições adotam o regime de permanência continuada, ou seja, as crianças e adolescentes moram e ficam no abrigo por tempo integral. A parcela mais significativa dos jovens (32,9%) está nas instituições entre dois e cinco anos. “É muito difícil que o jovem consiga se reestruturar se não houver um trabalho anterior”, afirma Dias. Para ele, é fundamental a existência de um trabalho de base com os jovens, fundamentados na família.Ele diz ser preocupante a apuração do Ipea, segundo a qual, apenas 5,2% das crianças e jovens desabrigados são órfãos e a principal causa do desabrigo é a pobreza (24,2%), seguida por abandono (18,9%), violência doméstica (11,7%) e pais dependentes de drogas e álcool (11,4%). Na avaliação dele, a ausência de políticas públicas agrava esse quadro. “Tem que existir políticas que resolvam esse problema, para que os abrigos deixem de existir ou que eles continuem a existir somente para quem precisa”.