Próximo presidente vai enfrentar cenário externo ruim, prevêem especialistas

14/09/2006 - 9h59

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Qualquer que seja o próximo presidente da República, não vai encontrar um cenário externo amistoso. Nos próximos quatro anos, deve governar o país em um mundo com disputas acirradas entre os países, tanto na área comercial quanto militar.Esse é o único consenso entre embaixadores e especialistas em política externa ouvidos pela Agência Brasil. Os caminhos para enfrentar essas adversidades não são compartilhados pelos estudiosos da área.“A nossa política externa nos próximos quatro anos, seja quem for o presidente, vai se dar num ambiente internacional pouco propício a entendimentos”, destaca o professor Mário Ferreira Presser, coordenador do curso de Diplomacia Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).“Há uma dificuldade de consensos tanto entre as grandes potências quanto entre elas e os países em desenvolvimento”, diz.Terrorismo, livre comércio, mudanças climáticas e o financiamento dos países pobres são os principais temas em conflito, na visão de Presser.A falta de acordos está tanto na área econômica como política, destaca o embaixador Rubens Ricúpero, ex-ministro da Fazenda e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).“Na área econômica, há sinais claros de que a economia norte-americana está se desacelerando, o preço do petróleo continua a um nível muito alto e há um impasse nas negociações da OMC [Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio], que era uma área de concentração do esforço brasileiro”, enumera.“Na área política, estamos assistindo a um agravamento da situação do conflito no Líbano, o ultimato dado ao Irã, pelo Conselho de Segurança da ONU em relação a seu projeto nuclear, o Iraque que está cada vez mais perto de uma guerra civil, há uma deterioração geral”, constata Ricúpero.O marco dessa nova fase mundial de conflitos foram os atentados de 11 de setembro de 2001, segundo José Luis Fiori, professor de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Criou-se no mundo uma “nova arquitetura econômica mundial”, para Fiori, com um novo eixo de negócios, dos Estados Unidos com China e Índia. Esses dois países, por sua vez, têm criado vínculos com as periferias asiática, africana e latino-americana.“Não é um exercício simples prever todas as conseqüências desta nova arquitetura econômica. Porém, até o momento, ela tem tido efeitos positivos para o comércio e a estabilização das finanças internacionais”, afirma.Tomar decisões diante desse cenário será o principal desafio do próximo presidente, na opinião dos especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Alguns defendem o aprofundamento da parceria com outros países do Sul do planeta.“Os países situados na periferia mundial têm necessidade de modificar seriamente as relações econômicas no mundo”, afirma o economista Theotonio dos Santos, diretor da Rede de Economia Global da Universidade da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Economia Global e o Desenvolvimento Sustentável.“Nós vivemos numa economia mundial extremamente desigual, onde um pequeno grupo de países concentra a riqueza do mundo, e submete os outros a um funcionamento que favoreça aos seus interesses”, argumenta Já há quem considere que, para ter voz ativa no cenário mundial, o Brasil tem de se aliar com os países mais ricos do mundo. É o caso de Eduardo Viola, professor do departamento de relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Ele considera ser fundamental a participação do Brasil em pelo menos duas organizações internacionais: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e no G8, grupo que reúne sete países mais ricos do mundo mais a Rússia.“O G8 é uma estrutura de coordenação no mundo, é importante passar a fazer parte deste grupo com China, Índia, México e África do Sul”, justifica. “Quanto à OCDE, que é considerado o clube dos países desenvolvidos, existe simpatia à candidatura brasileira . Os países que integram a OCDE têm regras de jogo muito mais estáveis, aumenta muito a segurança jurídica dos investimentos”, afirma.