Relator pedirá indiciamento de advogada suspeita de trabalhar para o PCC

06/09/2006 - 20h22

Priscilla Mazenotti
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de Armas, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), informou que vai pedir, norelatório final da CPI, o indiciamento da advogada Ariane dos Anjos,acusada de trabalhar para integrantes do Primeiro Comando da Capital(PCC) e de participar da morte do juiz-corregedor da Vara deExecuções Penais de Presidente Prudente, Antônio Machado José Dias, emmarço de 2003. "Acredito que existam indícios suficientes para pedir oindiciamento dela, não só por envolvimento na organização, como tambémcomo integrante do esquema que levou ao assassinato do juiz-corregedor", disse Paulo Pimenta.Ariane prestou depoimento hoje (6) na CPI e, apesar deconfirmar que defende ou já defendeu os principais líderes do PCC,negou ser integrante da facção criminosa. "Não trabalho para oPCC. Trabalho para pessoas que se encontram presas", afirmou Ariane. Elaconfirmou que foi advogada do líder do PCC, Marcos Camacho (Marcola), de Valdeci Alves dos Santos (Colorido), Robson Lima Ferreira(Marcolinha) e Abel Pacheco de Andrade (Vida Louca), entre outros. Arianeadmitiu também que é advogada de Luiz Henrique Fernandes, chamado pelorelator da CPI de "porta-voz do Marcola".No caso do juiz, Pimenta disse que foi a advogada quem transmitiu a ordem de Marcola para que oassassinato fosse cometido. Segundo o deputado, a informação foiconfirmada por outros depoentes, que disseram que Ariane esteve comMarcola na época da morte do juiz. O rastreamento das visitas àpenitenciária de Avaré, no interior de São Paulo, mostra que ela se encontrou durante duas horas com Marcola no dia 13 de março de2003, dia em que o juiz foi morto. Análise das chamadas telefônicas da advogada mostramque ela recebeu ligação telefônica com duração de oito segundos umminuto após o assassinato. Para a CPI, são indícios suficientespara atestar a participação dela no crime. "No caso da morte do juizcorregedor, todos os indícios levam a uma participação direta dela",disse Pimenta.O rastreamento das ligações de Ariane mostra que, entre janeiro e março de 2003, época da morte do juiz, Ariane  trocou 111 telefonemas com Priscila Maria dos Santos, queresponde a processo por tentativa de homicídio, junto comLuiz Henrique, uso de documento falso e tráfico de drogas.Priscila também é acusada de operar uma central telefônica dentro dopresídio de Avaré. O rastreamento mostra aindaque, um dia antes do assassinato do juiz, às 23h30, ela conversou mais de cinco minutos, por  telefone, com Priscila. "Não levava recadode ninguém. Nunca nenhum preso, nenhum cliente, nenhuma pessoa memandou fazer nada", negou Ariane.De acordo com a CPI, a advogada teria também recebido pagamentos da facção criminosa. Na agenda do tesoureiro doPCC, conhecido como DVD, consta uma anotação de setembro de 2004 com opagamento de R$ 10 mil para a "dra. Ariane". Segundo a CPI, na contabancária da advogada está registrado o recebimento desse valor na mesma época. Ariane ainda responde a inquérito por forjar declaraçãopara visita íntima de preso. Ela forjou relacionamento de dois anos comDonizete Antônio de Oliveira para ter direito a visitá-lo. Na verdade,disse a advogada, o relacionamento entre os dois durou apenas doismeses. Ele estava, na época, no mesmo pavilhão penitenciário deMarcola, o que reforçou a suspeita da CPI de que Ariane seria umaespécie de "pombo-correio" do PCC.Eça confirmou também que foi casada com EvandroCastellucci Arantes na época em que era advogada de Marcola. Evandroera agente de segurança no Instituto Penal Agrícola de Bauru (SP) e respondeu a sindicância, sendo afastado do cargo sob acusação de operar umacentral telefônica clandestina no instituto.Segundo a CPI, todas as investigações realizadas sobre o PCC revelam que a advogada tem participação dedestaque na organização. Além de ser responsávelpelos processos que envolvem os principais líderes da organização, diz a CPI, há "um  conjunto de indícios que revelam que ela temautoridade, no sentido, inclusive, de transmitir ordens, pelas ligaçõesque faz de maneira permanente para as centrais telefônicas, pelo fatode constar da contabilidade comprovadamente, pela movimentaçãofinanceira dela. Estamos convencidos do envolvimento (dela) em fatosextremamente graves".