Noticiário sobre eleições é monitorado por pesquisadores do Rio de Janeiro

06/09/2006 - 11h44

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O debate sobre política não se restringe aos palanques, ruas e horário eleitoral de rádio e televisão. Os jornais impressos também são um espaço importante para discussão durante o processo eleitoral, na avaliação de pesquisadores do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e da Universidade Candido Mendes. Por isso, desde fevereiro deste ano, eles acompanham no Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa) a cobertura das eleições presidenciais feita por quatro grandes jornais do país (O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil). Diariamente, são analisadas reportagens, colunas, charges, fotos, infográficos ou mesmo editoriais.“Através das planilhas, se pode observar os temas das matérias, a posição na página, o espaço, a quantidade de vezes que o nome do candidato aparece e se o conteúdo é positivo, negativo ou neutro”, detalha o coordenador do trabalho, pesquisador Gabriel Mendes.Segundo ele, o trabalho foi idealizado em 2000 por um grupo de alunos de pós-graduação em Ciência Política do Iuperj. “O objetivo é fazer um inventário do noticiário político. No final, teremos um banco de dados gigantesco a respeito da cobertura política da grande imprensa, o que permitirá ter uma noção geral do clima editorial no Brasil.”Pesquisadores de outros estados também estão coletando dados para consolidação após as eleições. Para Mendes, ao final, "será possível ver como a imprensa se comporta durante as eleições”. “Se tem casos no Brasil, em eleições presidenciais, de desequilíbrio completo, parcialidade explícita, manipulação. Ou então, descaso porque não interessava muito mostrar a eleição.”Os resultados parciais do levantamento mostram que a imprensa brasileira privilegia, em termos de espaço, o candidato que lidera as pesquisas de opinião. “É uma cobertura até conservadora, que não dá espaço para todos igualmente”, afirma Gabriel Mendes.Ele lembra que em 2002 o maior espaço nos jornais era dado ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas, e ao então candidato do PSDB, José Serra – a quantidade de aparições chegou a ser equilibrada. Mendes enfatiza, porém, que Anthony Garotinho, na época candidato a presidente pelo PSB, sempre teve índice de intenção de votos semelhante ao do atual candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, mas nunca obteve o mesmo espaço na mídia.Já Cristovam Buarque, apesar de ter apenas 1% de intenção de voto, seria mais citado pelas reportagens do que os demais candidatos com intenção de voto semelhante. A maior visibilidade na atual eleição, no entanto, continuaria sendo de Lula. “O espaço que tem no jornal é imenso pois além de ser o candidato da situação, é o presidente”, ressalta o pesquisador.De acordo com o estudo da Iuperj, Lula só foi menos citado nos jornais do que Geraldo Alckmin no momento da disputa interna para definição do candidato do PSDB à presidência. Apesar da maior visibilidade de Lula, as referências são, em sua maioria, classificadas como negativas, ou seja, as matérias reproduzem ressalvas, críticas ou comentários desfavoráveis.O noticiário mais positivo nessas eleições, em contrapartida, seria sobre Heloísa Helena, candidata a presidente pelo P-SOL. Segundo Gabriel Mendes, a candidata só teve saldo negativo nas matérias em duas das 12 quinzenas analisadas desde o começo da pesquisa. Alckmin, por sua vez, teve saldo negativo em apenas cinco quinzenas. As matérias negativas não falariam mal do candidato, mas de sua campanha.Na página eletrônica do Doxa é possível acessar dados referentes à natureza da cobertura – positiva, negativa ou neutra – e visibilidade, que é a quantidade de vezes que cada candidato aparece na mídia.