Regionalmente, índice de suicídio no Brasil é semelhante ao de países com maiores taxas do mundo

23/08/2006 - 11h25

Isadora Grespan
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Embora a média de mortalidade por suicídio no Brasil esteja longe da de países como Japão, que figura entre as maiores taxas mundiais, alguns estados e capitais brasileiros apresentam índices comparáveis aos desses lugares.Em 2004, a média nacional era de 4,5 mortes por 100 mil habitantes, de acordo com um estudo feito pelo Ministério da Saúde, em parceria com universidades públicas e privadas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Japão, a média é de 25 mortes por 100 mil habitantes, enquanto que em países como Espanha, Itália, Irlanda, Egito e Holanda, é de menos de dez mortes a cada 100 mil habitantes.“Quando comparamos a média brasileira à de outros países, pode parecer que não há problema”, diz o coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e de Prevenção do Suicídio da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Tavares “Por localidades, no entanto, existem muitas diferenças, e há lugares em que as taxas são comparadas à gravidade de outros países”.Caso, por exemplo, do Rio Grande do Sul. O levantamento mostra que, em 2004, o estado apresentava a maior mortalidade masculina por suicídio do país: 16,6 mortes a cada 100 mil homens. Em último lugar vinha o Maranhão, com 2,3 mortes a cada 100 mil homens.Em relação às mulheres, Mato Grosso do Sul ocupava o primeiro lugar, com taxa de 4,2 mortes a cada 100 mil mulheres. Em último lugar estava o Rio Grande do Norte, com mortalidade de 0,6 a cada 100 mil mulheres.“Não há uma explicação conclusiva para essas taxas, porque o suicídio é um fenômeno que não depende de uma única causa”, diz a diretora adjunta da faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Blanca Guevara Werlang”. “Ou seja, há uma combinação de fatores (biológicos, psicológicos, psiquiátricos, sociais, econômicos e ambientais) que podem levar a pessoa a tirar a própria vida”.O psiquiatra Carlos Felipe Almeida, coordenador das Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio, do Ministério da Saúde, pondera que também existem diferenças entre regiões, faixa etária, gênero e até etnias. "Há lugares que têm mais fatores de risco ao suicídio, como o uso abusivo de álcool e drogas. Em contrapartida, há outros que têm mais fatores de proteção, como qualidade de vida", pondera.Em relação aos indígenas, por exemplo, Almeida diz que em todas as etnias as taxas são altas, o que eleva os índices nos locais onde vivem essas populações. “A taxa em Dourados, no Mato Grosso do Sul, é elevada por causa da mortalidade entre os Guarani-Kaiowá”.Segundo ele, o mesmo acontece, por exemplo, em Macapá, que, em 2004, liderava o ranking de mortalidade por suicídio masculino entre as capitais: 13,6 mortes a cada 100 mil homens. "Como no Amapá cerca de 70% da população vive na capital, é natural que lá o índice seja maior que entre outras cidades do estado. Se fizermos uma intervenção ali, é provável que esse índice diminua".Alemida cita outro exemplo: no Brasil, a mortalidade por suicídio na população idosa tem mantido patamares elevados ao longo dos anos, mas há um aumento nas populações mais jovens.“Esse é um fenômeno mundial, que não está acontecendo apenas aqui”, diz a psicóloga da PUC-RS. “No país, o que tem aumentado são as taxas que envolvem as faixas etárias entre 15 e 29 anos, o que é preocupante, porque essas pessoas são o futuro da Nação”.Almeida salienta que os indicadores não podem ser analisados de forma separada. “Tudo isso tem que ser levado em consideração para que se possa organizar políticas de intervenção e prevenção ao suicídio".