Governo vai liberar escolha do banco para receber salário e remanejar dívidas

23/08/2006 - 1h42

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo federal vai adotar medidas para estimular a economia e faciltiar as relações bancárias. Uma delas é dar ao trabalhador o direito de escolher qual o banco ele quer receber o salário e possibilitar a transferências sem custos da Contribuição Provisório sobre Movimentação Financeira (CPMF). Outra medida anunciada para breve é a liberdade de escolha do trabalhador para trocar sua dívida com o crédito em folha para outro banco de sua preferência. Ao permitir que o trabalhadorescolha com que instituição bancária quer movimentar sua conta, o governo vaiaumentar a competição entre os bancos. Para o ministro da Fazenda, GuidoMantega “o sujeito que se sentir atraídopelas ofertas de outro banco vai poder sair”. Leia alguns trechos da entrevistaexclusiva do ministro à Radiobrás. Agência Brasil: O Banco de Compensação Internacional (BIS) colocou oBrasil em primeiro lugar em relação à margem de lucro dos bancos. Coincide comas medidas que o governo deve tomar para reduzir a taxa que os bancos cobramdos seus clientes. O que o governo vai fazer para conseguir isso?Guido Mantega: Vamos aumentar a competição entre os bancos.Permitir que o cidadão que recebe o salário num banco, se ele quiser, podetransferir sem nenhum custo para outro banco.ABr: Sem cobrança de CPMF [Contribuição Provisóriasobre Movimentação Financeira]?Mantega: Sem CPMF e sem nenhuma tarifa. Muitas vezes ocliente que sair de um banco e para impedir que isso aconteça, o banco cobrauma tarifa alta. Ele vai poder transferir o salário para outro banco semcustos. O sujeito que se sentir atraído pelas ofertas de outro banco vai podersair. E o banco onde ele está vai oferecer mais vantagens e assim estamosestabelecendo a competição entre os bancos.ABr: O que impede hoje o trabalhador de escolher a bancoem que quer receber o salário?Mantega: Muitas vezes as empresas negociam a folha depagamento com o banco e obtém alguma vantagem em troca. E aí fica o compromissode que essa conta não pode sair de lá. O banco cria dificuldades para que essaconta seja transferida. Por exemplo, uma tarifa elevada. Principalmente em setratando de empréstimo, porque nós vamos permitir também a transferência doempréstimo. Se o cidadão tem o crédito consignado num banco, ele vai podertransferir isso para outro banco, sem pagar nada. Nenhuma tarifa. Estamoseliminando esses custos de transferência e estabelecendo que ele tenhaliberdade de pedir a transferência. O banco tem que executar essa transferênciasenão ele sofre algumas punições do governo.ABr: O senhor não concorda que deveria ser um direito dotrabalhador escolher o banco onde vai abrir a conta salário e não a empresadecidir?Mantega: É o que estamos tentando fazer. É escolha docidadão trabalhar com o banco que deseja. Outra coisa, hoje o que atrapalha aredução da taxa de juros no Brasil é a falta de competição. A competição leva àredução da taxa de juros. O que queremos é que os bancos corram atrás docidadão e não que o cidadão fique pedindo favores para o banco. Queremos queisso seja invertido. Estamos fomentando a competição. Tem bancos que já estãooferecendo as taxas menores por conta das medidas que vamos tomar. Depois quetomarmos essas medidas ao longo do tempo isso vai se generalizar.ABr: A taxa cobrada pelo governo, a Selic, também é alta.Embora ela seja hoje a menor da história, ainda é alta. E a taxa real(considerando a inflação) também é alta. Há quem também cobre do governo maisvelocidade na redução, como o setor produtivo quer.Mantega: O governo teve queempreender uma luta dura contra a inflação. Nós sabemos que a inflaçãoprejudica principalmente o cidadão brasileiro, que ganha o salário. Vencemos abatalha contra a inflação. Foram quatro anos de luta em que a inflação estavaem 12% ao ano e hoje está em 4%. A batalha está ganha e em função disso a Selicestá sendo reduzida. Ela caiu nos últimos 12 meses, cinco pontos percentuais.Estava em 19% e hoje esta em 14,75%. E ela deverá continuar caindo porque ainflação está sob controle. Concordo que estamos com a taxa alta, porém é amenor nominal (sem considerar a inflação) de todos os tempos e ela vaicontinuar. Prometo que nos próximos quatro anos teremos a menor taxa de todosos tempos. De modo que o juro real vai chegar aos 4% ou 5%.