Diretora das Nações Unidas defende que adolescentes infratores não ficam impunes no Brasil

30/07/2006 - 0h14

Isabela Vieira
Da Agência Brasil
Brasília - A população tem uma falsa impressão de impunidade quando um adolescente comete um delito, na opinião de Karina Sposato, diretora do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção e Tratamento da Delinqüência (Ilanud). O fato de não ser preso, diz ela, não significa que ele não será responsabilizado pelo que fez.Em entrevista à Rádio Nacional, Sposato afirmou que o Brasil deve olhar com mais cuidado para as exceções e para as regras quando o assunto é a redução da maioridade penal. De acordo com ela, as estatísticas mostram que o homicídio não representa nem 2% dos delitos de jovens que cumprem internação. “Existem casos excepcionais, ainda que a regra seja de delitos contra o patrimônio”, afirmou.Na avaliação da diretora, é difícil encontrar um ponto em comum quando se compara a experiência do Brasil com a de outros países, como os Estados Unidos, que aplicam pena de prisão perpétua para jovens de 12 anos. “São dinâmicas distintas. Lá não há uma legislação unificada para o país, cada estado tem o seu próprio código penal”.Sposato acha necessário buscar uma experiência própria no Brasil, onde parte da juventude sofre violação de direitos ao longo da vida e adere ao crime por falta de opção, segundo ela. “Aqui vivemos em uma desigualdade social profunda, com problemas como falta de educação. Um jovem que está na Febem tem no mínimo cinco anos de defasagem escolar, sem contar aqueles que passaram pela escola e não sabem escrever o próprio nome”.A especialista acha necessário fazer uma reflexão. “Nós não temos a mesma dinâmica dos Estados Unidos para adotar as mesmas soluções. Existe também uma decisão política, afinal, queremos neutralizar uma parcela da população ou gerir um sistema onde as pessoas possam participar do convívio social, se integrar, superar a delinqüência?”