Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio - O secretário-geral da Organização de Direitos Humanos Projeto Legal, Carlos Nicodemos, disse hoje (25) no seminário Enfrentamento ao Assassinato de Crianças e Adolescentes, que marca os 13 anos da Chacina daCandelária, ocorrida no Rio, que as baixas estatísticas da violência policial noprograma de atendimento de crianças ameaçadas de morte mascaram a realidade. “Na nossa opinião, a polícia não ameaça, a polícia faz.Então, não há margem nem tempo para que se possa aplicar uma medida deproteção, com uma certa tolerância dos poderes públicos”, afirmou.Para ele, as estatísticas apontam a aplicação do programaonde há atuação do tráfico de drogas, “mas não se descarta de maneira nenhumaque a polícia hoje é uma das causas de ameaça à vida de crianças e adolescentesempobrecidos e na criminalidade”.De acordo com Nicodemos, o poder público tem feito muitopouco em relação ao problema. ”Não existem políticas preventivas em relação aisso e nem uma política de estado que minimize a violência contra as famíliasdestes adolescentes assassinados que passam a sofrer com a dor e o abandono”, disse.A opinião é compartilhada por Fábio Rodrigues, do Núcleo deDireitos Humanos da organização não governamental Observatório de Favelas. Ele acreditaque a maior causa de mortes de crianças e adolescentes nas comunidades popularesé a ação policial. “Uma das piores violências que as comunidades sofrem é aação do Estado. A polícia é uma das principais responsáveis pelos homicídiosnas grandes capitais. E as favelas sofrem muito com isso. Se for observar ascaracterísticas das vítimas, você vai ver que são jovens, negros, pobres,principalmente na faixa de 15 e 24 anos, e moradores de periferias”.Segundo ele, este tipo de violência não aparece nasestatísticas já que a família não denuncia porque tem medo. “É legítimo essemedo. Se um jovem foi morto dentro de casa, imagina o que vai acontecer com afamília caso ela procure os meios legais? Então muita coisa acontece sem que setorne público”, afirmou.